domingo, 20 de novembro de 2011

Políticas keynesianas e a ressaca financeira mundial

O diagnóstico para as principais economias mundiais após a crise de 2008 seguiu fielmente a teoria desenvolvida por John Maynard Keynes na década de 30 e posteriormente consagrada no modelo ISxLM desenvolvido por John Richard Hicks, prêmio Nobel de economia em 1971. A saber, se o país se encontra em recessão, uma combinação de políticas econômicas com o aumento de gastos públicos e redução de impostos, pelo lado fiscal, e impressão de moeda e redução da taxa de juros, do lado monetário, estimularão a economia de volta ao seu produto de pleno emprego.

O Brasil adotou tais medidas com isenções de impostos, aumento de despesa e redução dos juros básicos. Já países desenvolvidos como Estados Unidos e Inglaterra foram ainda mais fundo na cartilha Keynes-Hicks, não somente os juros básicos foram a praticamente zero, mas também a política monetária não parou por aí, inundaram as respectivas economias e o mundo com a impressão pura e simples de moeda, o famoso quantitative easing. A conseqüente recuperação econômica, ainda que frágil, e a recuperação das bolsas justificou o sucesso e aumentou ainda mais a popularidade dos defensores de Keynes.

O que vemos agora é algo que Keynes não explicou tão bem, mas que é a conseqüência natural de suas políticas: mais cedo ou mais tarde a conta fiscal chega. O cenário atual, inimaginável a alguns anos atrás, de possível rebaixamento da nota de avaliação dos Estados Unidos e com países da Zona do Euro próximos de um calote é o resultado da ressaca desta festa keynesiana de 2009-2010.

Relembramos outro prêmio Nobel de Economia, desta vez de 1974, Frederick August von Hayek, representante da escola clássica austríaca, bem menos popular que Keynes. Hayek argumentava que políticas de aumento de gastos teriam efeito transitório, servindo apenas de pretexto para que políticos inescrupulosos e empresários com boas conexões pudessem aproveitar ainda mais dos recursos públicos em seu próprio benefício. Algo impensável no Brasil, não é mesmo?

As razões de Hayek são simples, o motivo para a bolha imobiliária foi crédito farto levando a uma má e excessiva alocação no uso do capital. Quando temos mais capital buscando investimento do que bens e ativos disponíveis, a conseqüência é um aumento generalizado no preço destes ativos, a famosa “bolha”. A quebra deste ciclo se dá com uma correção de preços pelo mercado, levando a economia para uma recessão. Recuperar a economia com aumento de gastos públicos e crédito ainda mais barato só irá gerar mais decisões equivocadas e promover novas bolhas e novos estouros. Criar incentivos e estímulos corretos na alocação do investimento, deixar com que a queda dos preços estimule a demanda é sim, segundo Hayek, a direção a ser seguida.

Atualmente, o que vemos é que o discurso está mudando no meio do caminho para o lado de reverter às políticas keynesianas. Busca-se agora a linha da responsabilidade com promessas de corte de gastos e aumento de impostos. Porém, a suspensão do efeito analgésico das políticas keynesianas não virá sem dores. O corte de gastos nas principais economias mundiais muito provavelmente nos levará a uma recessão ou a uma forte desaceleração da economia mundial.

A conta da crise imobiliária de 2008 foi postergada, mas ainda vai chegar. Políticas keynesianas aliviaram os efeitos de curto prazo, mas geraram um problema adicional de endividamento público explosivo em muitas economias. Agora, a solução é mudar o tratamento e esperar que este funcione.

rasil Econômico (09/08/2011)

Marcelo Moura

Marcelo Moura é Professor Associado do Insper


Fonte: http://conhecimento.insper.edu.br/financas-e-contabilidade/2011/08/29/se-endividar-nao-gaste-a-ressaca-financeira-mundial/

Um comentário:

  1. Sobre o texto acima, refere se as ideias de Keynes em solucionar a crise de 1929, trazida para a crise atual.
    Nos temos o conhecimento de que Keynes defendia a intervenção do estado na economia diante da produção, da geração de emprego e renda,com base na politica fiscal e monetária.Na atual crise, as ideias de Keynes estão presentes e a intervenção do estado é vista por todos, como citado no texto "Políticas keynesianas aliviaram os efeitos de curto prazo, mas geraram um problema adicional de endividamento público explosivo em muitas economias. Agora, a solução é mudar o tratamento e esperar que este funcione."
    É de fato que quem criou o mercado tenha que solucionar as consequências, mas vem a pergunta até que ponto que o estado deve intervir, para que a economia volte ao normal?...Com base no conhecimento o estado tem que intervir pontualmente, esperando a solução para que a economia volte a se estabilizar e entrar em um novo equilíbrio.

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