terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A RECONSTRUÇÃO DO ESTADO

 

Bilhões gastos por Bush resgatam idéias keynesianas

por Leonardo Atuch
Assim que as duas torres do World Trade Center desabaram, o mundo redescobriu o óbvio: quando a superpotência econômica entra em crise, a receita para encurtar uma recessão é o oposto do que se costuma propor para países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, em momentos de depressão, aposenta-se a ortodoxia liberal e os governantes lançam mão de medidas que classificariam como heresias, quando aplicadas em outros países. Em vez de superávits fiscais, mais gastos públicos, numa apoteose expansionista. No lugar do arrocho monetário, a menor taxa de juros em 40 anos. Desregulamentação e privatização? Nada disso. Agora, o Estado é novamente chamado a assumir serviços essenciais e a segurança nos aeroportos é o melhor exemplo. É como se, subitamente, depois de Osama Bin Laden, o hard disk da economia americana tenha sido trocado. Em vez de rodar numa plataforma monetarista, à la Milton Friedman, a máquina agora funciona sob os comandos de um software programado com os códigos de John Maynard Keynes, o economista inglês que subverteu a ordem ao propor um papel ativo dos governos em períodos de crise e cujas idéias ajudaram a tirar o mundo da Grande Depressão nos anos 30. Na teoria, a mão invisível do mercado deve dar lugar a uma mão corretiva do Estado. Pelo menos, na hora em que o calo aperta.
Depois de 11 de setembro, a mão direita de George W. Bush entrou em ação sem pedir licença. Foram várias canetadas: US$ 20 bilhões para a aviação, US$ 70 bilhões para o Pentágono e mais US$ 100 bilhões em incentivos fiscais para grandes empresas e consumidores, sem falar no contrato de US$ 200 bilhões para a compra de jatos vencido pela Lockheed Martin. Com tudo isso, Bush decidiu praticamente torrar os superávits fiscais acumulados na era Clinton. Para uma economia que gira US$ 10 trilhões por ano, pode até parecer pouco. Mas as medidas revelam uma postura ativa do governo diante da crise. É o mesmo que Alan Greenspan tem procurado demonstrar. O timoneiro do Federal Reserve, o banco central americano, reduziu a taxa de juros 11 vezes consecutivas em 2001. A atual, em 1,75% ao ano, é inferior à inflação. Ou seja: os Estados Unidos hoje têm juros negativos. E além de simplesmente cortar as taxas, o governo americano fez uso de sua liderança internacional, cobrando ação semelhante em todo o mundo, do Japão à Europa, para injetar liquidez no sistema financeiro internacional – nesse esforço, os principais bancos centrais do mundo anunciaram novas linhas de crédito de US$ 120 bilhões.
O resgate das idéias keynesianas, que por muito tempo permaneceram guardadas no armário, sob o rótulo de estatizantes e inflacionistas, não agradou a todos. Milton Friedman, o maior rival intelectual de Keynes e um pensador ainda ativo, da Universidade de Chicago, foi uma das vozes dissonantes. “A crise serviu de pretexto para os políticos mais uma vez gastarem o dinheiro dos outros em prol de seus próprios interesses”, declarou. Só que a redescoberta do Estado pelos americanos já vinha se desenhando bem antes de 11 de setembro. Os apagões da Califórnia são o melhor exemplo. Depois de uma privatização ruim e um modelo de desregulamentação inconseqüente, um dos Estados mais ricos dos EUA ficou no escuro. Qual foi a solução? O governo foi obrigado a intervir para garantir a oferta de energia e a redução dos preços. Sinal de que, nos Estados Unidos, a propaganda do laissez-faire tem sido, em muitos casos, um produto apenas de exportação.
Bom, e o Brasil nisso tudo? Continuamos com a maior taxa de juros do mundo – 19% ao ano contra 1,75% nos Estados Unidos – e também com o maior superávit primário: quase 4% do PIB. É curioso que, mesmo com baixo crescimento, o País seja levado a manter juros altos e a cobrar mais impostos. Paul Krugman, economista do MIT, matou a charada. Só países “de primeira linha” têm tido liberdade para adotar receitas keynesianas em momentos de crise. Ainda não é o caso do Brasil.

O ASSASSINO DO KEYNESIANISMO

No período do pós-guerra, quando a economia keynesiana era predominante no credo econômico, Friedman empreendeu uma série dos estudos destruindo algumas das principais suposições de John Maynard Keynes (1883-1946). Nos anos quarenta desafiou a posição keynesiana de que a política discricionária do governo era essencial para assegurar o pleno emprego. Friedman foi capaz de mostrar que os elaboradores de políticas públicas macroeconômicas nunca teriam conhecimento suficiente sobre as mutantes condições de mercado para manipular com sucesso as ferramentas da política fiscal e monetária de modo oportuno. Ao contrário, argumentou que a política governamental mais sábia a longo-prazo seria um pequeno número de regras políticas previsíveis.

No início dos anos cinqüenta, Friedman apresentou uma reformulação da teoria quantitativa da moeda, afirmou que todo o aumento geral, prolongado e sustentado dos preços tinha causa num aumento na oferta de dinheiro. A “inflação”, disse, “é sempre e em toda parte um fenômeno monetário”. Sua já citada “História monetária dos Estados Unidos” demonstrou que a manipulação governamental da oferta de moeda era o principal fator por detrás dos ciclos de crescimento e de bancarrotas experimentados no século XX. Além disso, afirmou que foi a política desorientada do Fed no início dos anos trinta que gerou a severidade da grande depressão em 1929 – e não nenhuma falha inerente à economia de mercado.

Isto levou Friedman apresentar a defesa de “uma regra monetária”, sob a qual à autoridade monetária seria negada qualquer poder discricionário sobre a oferta de dinheiro. Ao contrário, o Fed seria limitado a aumentar a oferta de dinheiro a uma taxa anual fixa de cerca de três por cento. Isto criaria um elevado grau de previsibilidade sobre a política monetária e geraria um nível de preço relativamente estável numa economia crescente.

Ao defender uma regra monetária, Friedman advogou um padrão de papel-moeda melhor do que o padrão-ouro, discutindo que este pouparia os custos de escavar o metal da terra apenas para armazenar nos cofres dos bancos. Mas, anos após ter recebido o prêmio de Nobel repensou sua regra monetária e o padrão-ouro. Numa série dos artigos nos anos oitenta Friedman afirmou que a teoria da escolha pública (Public Choice) o tinha convencido que nunca seria do interesse a longo prazo dos governos ou das autoridades monetárias seguir o tipo de regras que propôs, já que a tentação de abusar da impressão por razões políticas seria sempre muito grande. Concluiu então que, dada à história da política do Federal Reserve System no século XX, permanecer no padrão-ouro teria sido muito menos custoso para os Estados Unidos do que as inflações e as recessões criadas pelo Fed.

Uma contribuição final e duradoura de Friedman foi a formulação “da taxa natural” de desemprego. Os keynesianos dos anos cinqüenta e sessenta acreditaram que era possível abaixar permanentemente a taxa de desemprego com a manipulação da taxa de inflação. No pronunciamento presidencial diante da associação econômica americana em 1967, Friedman afirmou que no máximo, as políticas monetárias poderiam temporariamente abaixar o nível de desemprego. Mas no longo prazo ela retornaria a sua “taxa natural”.

Disse que a quantidade de desemprego, em qualquer época, foi determinada pela mudança das condições de oferta e da procura nas expectativas do mercado e das pessoas sobre a taxa de inflação futura, o que influenciou as demandas de preço e de demandas salariais. A autoridade monetária poderia enganar as pessoas aumentando a taxa de inflação acima das expectativas das pessoas, tendo como resultado uma elevação maior dos preços acima dos salários, e as margens de lucro maiores resultantes criariam um incentivo para que os empregadores aumentassem a saída e empregassem mais trabalhadores. Mas com o passar do tempo, quando as pessoas descobrissem a verdade sobre a taxa de inflação, exigiriam maiores salários e preços dos recursos para compensar o poder de compra perdido. Isso reduziria as margens de lucro e o nível do desemprego retornaria ao seu em nível “natural”.

A menos que a autoridade monetária estivesse disposta a aumentar continuamente o preço da taxa da inflação acima das expectativas de ajustes das pessoas, teremos de aceitar a lição de que na política de longo prazo, a política monetária não pode influenciar os níveis de emprego e de produção. Estes são determinados pelas condições de mercado e não pela manipulação do governo.

Com estas contribuições, Friedman transformou permanentemente os termos do debate na macroeconomia, e nesse processo destruiu muitas das mais estimadas suposições da economia keynesiana.


http://www.cieep.org.br/index.php?page=artigossemana&codigo=636

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Keynes vs Hayek - Parte II

Esse vídeo é a continuação..

Keynes vs Hayek

Pessoal, assistam!
Além de engraçado vai ajudar a entender melhor a matéria!

Muito bom !!!

Keynes versus Friedman

Keynes versus Friedman

Podemos considerar a economia como a ciência social que administra recursos escassos para satisfazer as necessidades humanas que são ilimitadas. Por definição a economia caminha em rotas repletas de subjetivismo. Cada tomada de decisão é feita sem certeza alguma. Aprende-se com os exemplos do passado e a tomada de decisões é perante o que se acha que deve ocorrer.

Partindo destes pressupostos, há espaço para diversas correntes de pensadores, onde na história recente temos dois grandes destaques. Um deles se chama John Minardi Keynes e foi o grande ícone de gerações de economistas em todo mundo, e inspira uma corrente de pensamento que leva seu nome. O outro é Milton Friedman, considerado o pai do liberalismo moderno.

Ambos pretendem o desenvolvimento, crescimento e o bem social. Porém traçam caminhos totalmente opostos para tal. Tomamos por exemplo a crise que se iniciou nos Estados Unidos e que é a causa da paralisia e até recessão dos mercados atuais.

A crise começou com um ataque terrorista brutal, que certamente levaria a economia americana – e consequentemente global – a uma crise de confiança e redução de consumo. Prevendo isso, o Governo americano injetou considerados recursos no setor imobiliário, que a priori afeta inúmeros outros setores da economia.

A oferta de crédito era enorme e os bancos usaram de sua liberdade ‘a la Friedman’ para ter grande liquidez. Foram feitos milhares de empréstimos que comprometiam boa parte da renda dos compradores e securitizados por hipotecas. Tudo funcionou até que o aumento da inadimplência começou a executar hipotecas e a recolocação desses imóveis a venda. O resultado foi uma extrema perda de valor nestes ativos e seus títulos de dívidas viraram pó.

Os bancos estavam operando com uma alavancagem de derivativos muito altos, muito além do que a saúde econômica suportaria e pior, muitos alavancados com títulos podres do setor imobiliário. O problema com a inadimplência dos financiamentos de imóveis nos EUA afetou a liquidez dos bancos e, por sua vez, a economia sem crédito ficou paralítica e a beira do caos.

Todo este cenário que descrevi até agora aconteceu perante o governo republicano do presidente Bush. O governo assistiu este desenrolar paciente e sem intervenções, acreditando no auto ajuste do mercado pela ‘mão invisível’. É isto que ensina a doutrina liberal de Friedman, onde o governo deve ter suas ações limitadas e deve deixar o mercado livre. É interessante salientar que Friedman conquistou o prêmio Nobel de economia em 1976, e era praticamente o Deus do liberalismo, o suprassumo das correntes econômicas. Porém sua teoria foi posta à prova, e pior, para sobreviver a crise, o governo liberal de Bush teve que atuar fortemente na economia.

Neste momento, estava Keynes em alguma dimensão, comemorando como se estivesse feito um gol.

O governo dos EUA teve que socorrer a economia atuando principalmente no setor financeiro e em algumas empresas estratégicas. Ao injetar recursos na economia foi acionado o efeito multiplicador de keynesiano: o dinheiro produz consumo, que puxaria a produção, que produziria mais consumo e assim por diante.

É importante lembrar que a presença do Estado na economia, pressuposto de Keynes, deve ser diferente em cada setor e que o Estado não pode ser o único agente de investimentos e desenvolvimento. Isto causaria grandes déficits. É o caso da Grécia atualmente.

Friedman acreditava que a atuação monetária deveria ser a única ferramenta de atuação do Estado, deixando que o restante fosse feito conforme ajustes que o próprio mercado faria. Isto se mostrou uma utopia. Os agentes do mercado são gananciosos e se deixar controlar sozinho causaria ganhos a alguns e perca para muitos. As deslocações de renda deixaria a economia ainda mais instável. Sendo que ‘crise’ seria o reflexo de grandes proporções deste desajuste. Certamente que o liberalismo acerta em alguns pontos, mas deixar o mercado se regular pode ir de encontro ao bem social, pois se desconsidera a irracionalidade e desonestidade dos agentes do mercado.

Os pensamentos de Keynes se mostraram eficazes. Tanto para a contenção desta crise como também na Grande Depressão de 1929 e na reconstrução da Europa pós-guerra. Porém o excesso da presença do Estado na economia grega levou o país à uma dívida muito além da produção do país. Keynes considerou que o Estado teria os melhores profissionais e não considerou a corrupção.

Acredito que as medidas econômicas devem ter um mix, entre controle estatal em algumas áreas, mercado se regulando e de uma forma assistida em outras. O Estado deve ter como prioridade o desenvolvimento sustentável e ambas as correntes podem contribuir para isto.

Que Keynes cuide bem de Friedman, amém.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Smith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica

mith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica
Smith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica
Por Mario Rapoport e Ricardo Lazzari
Adam Smith não representa, no entanto, completamente, a teoria ortodoxa atual que se impôs nos anos do neoliberalismo. Em sua época, o livre comércio supunha a competição de muitos capitalistas em resposta ao controle monopolista do comércio por parte de certas corporações privadas e estatais. Está muito longe do pensamento de Keynes subsidiar o mercado financeiro e rebaixar salários e aposentadorias
5de junho foi aniversário de nascimento de dois dos pensadores mais influentes na história da ciência econômica, Adam Smith e John Maynard Keynes. Muitos têm falado e escrito sobre eles, mas poucos fizeram uma comparação de suas vidas e de suas obras, e esta é a ocasião para fazê-lo, no momento em que o capitalismo, sistema que um deles impulsionou e o outro tentou salvar, debate-se em uma profunda crise. Nosso objetivo é expor, em grandes linhas, algumas de suas coincidências e diferenças, o que nos permitirá compreender, também, os limites do sistema econômico em que vivemos.
1. Toda teoria econômica deve ser considerada nos marcos de sua época e as ideias de ambos tiveram a ver com a problemática que tocou a viver a cada um. As razões dos êxitos que os acompanhou estão vinculadas com seus acertos em decifrar e entender as tendências e fenômenos históricos predominantes. No caso de Adam Smith, a emergência de um modelo capitalista de desenvolvimento na Europa do século XVIII, marcado pela Revolução Industrial no plano econômico e por mudanças políticas que destruíram ou restringiram privilégios das monarquias absolutas. No de Keynes, a época do declínio e da primeira grande crise do capitalismo, que não começou, como assinala ele próprio em seus Ensaios de Persuasão (1931), com a queda da Bolsa de Wall Street em 1929, mas sim antes, no primeiro pós-guerra, através de sintomas sobre os quais advertiu precocemente, como o fim do padrão ouro e os desequilíbrios crescentes do sistema econômico internacional. Uma evolução histórica que coincide com sua etapa de formação e desenvolvimento como economista.
2. Nem um nem outro foram meramente economistas. Entenderam a ciência econômica como fazendo parte de saberes mais amplos que permitiam uma compreensão das sociedades de seu tempo e da natureza dos indivíduos que as constituíam. Adam Smith iniciou sua carreira universitária como titular da cadeira de Lógica e Filosofia Moral, na Universidade de Glasgow, onde elaborou, progressivamente, suas teorias sobre o direito, a moral e o Estado, que se plasmaram em sua obra “Teoria dos Sentimentos Morais” (1759) e em suas “Leituras sobre Jurisprudência”. Sua teoria econômica deriva de suas concepções éticas onde o egoísmo domina a esfera econômica enquanto que o altruísmo funda as bases da vida social. Neste sentido, não é possível compreender sua obra principal, “A Riqueza das Nações” (1776), sem relacioná-la com um corpus ideológico e filosófico no qual se enquadram suas contribuições para a economia política.
Keynes também tinha uma formação filosófica e uma visão mais ampla da realidade de sua época. Não era viciado nos modelos econométricos que só podiam apreender aspectos limitados da realidade e, ainda que professor em Cambridge e funcionário em distintos momentos de sua vida, caracterizava-se a sim mesmo, irônica ou modestamente, como um “publicista”, um autor que escreve para o pública de forma periódica com o objetivo de difundir suas ideias. Em todo caso, para Keynes, todo economista deveria possuir uma rara combinação de qualidades: matemático, historiador, homem político e filósofo. Estudar o presente à luz do passado e com a perspectiva do futuro, sem deixar de lado nenhuma das instituições criadas pelo homem.
3. Ambos concebiam o capitalismo como um sistema. Não obstante, para Smith, era o estágio mais elevado na evolução econômica. Keynes, em troca, considerava esse sistema como uma fase no desenvolvimento histórico da humanidade, ainda que a mais conveniente no momento. Adam Smith viu a economia como um todo orgânico, natural que, por meio do mercado, tende a um equilíbrio. O homem, ao perseguir seu próprio interesse individual buscando o máximo benefício, trabalha necessariamente para fazer com que a receita anual de uma sociedade seja a máxima possível. Ele é levado a isso por “uma mão invisível” que “o conduz a promover um fim que não estava em suas intenções”. Em troca, Keynes diz, criticando o laissez faire, que “não é verdade que os indivíduos possuem, a título prescritivo, uma liberdade natural no exercício de suas atividades econômicas”. Não existe, segundo ele, nenhum pacto que possa conferir direitos perpétuos aos proprietários de bens. Além disso, não é correto deduzir dos princípios da economia política que o mundo é governado pela Providência, e que o interesse pessoal trabalha sempre em favor do interesse geral.
4. As teorias de ambos tentavam modificar determinadas condições econômicas e políticas. Em “A Riqueza das Nações”, destaca-se a preocupação de Smith com as políticas mercantilistas que caracterizavam os monopólios coloniais. O livre comércio era uma condição necessária para o florescimento da competição, dos baixos preços e da expansão dos mercados. Em consequência, a divisão do trabalho, principal motor do incremento das forças produtivas, não encontraria travas para sua completa generalização e derivaria em uma maior riqueza das nações. Alguns de seus seguidores deduziram disso que as crises seriam impossíveis dentro do sistema na medida em que o poder de compra do mercado dependeria da ampliação da produção e das receitas que isso geraria.
Pelo contrário, Keynes demonstrou em sua “Teoria Geral” (1936) – e os anos 20 e 30 dariam razão a ele – que o aumento das receitas pode não resultar em um crescimento similar do consumo, e aquela parte que se poupa não necessariamente é dirigida para a atividade produtiva, diretamente ou por meio de financiamento. Essa insuficiência nos níveis de consumo e investimento, que não cobrem a oferta existente, traz graves consequências sobre o produto e o emprego, originando as crises. Deste modo, como diz Joan Robinson, o economista inglês retoma o problema moral que a teoria do livre mercado havia aparentemente abolido: sua incapacidade para gerar ocupação plena e a necessidade de formas de regulação do sistema econômico. Diante desse diagnóstico, competiria ao Estado garantir o pleno emprego: aumentando o gasto público, reformando o sistema fiscal, melhorando a distribuição de renda e regulando o comércio exterior.
5. Adam Smith não representa, no entanto, completamente, a teoria ortodoxa atual que se impôs nos anos do neoliberalismo. Em sua época, o livre comércio supunha a competição de muitos capitalistas em resposta ao controle monopolista do comércio por parte de certas corporações privadas e estatais. Hoje, em um mundo marcado por companhias multinacionais de caráter oligopólico, o mesmo princípio implica o domínio dos mercados por parte de umas poucas empresas que determinam a produção e os preços, captando para si a maior parte do excedente gerado pela acumulação do capital, tanto na esfera propriamente econômica como na financeira. Por sua parte, as políticas keynesianas tampouco significam que a intervenção do Estado consista no resgate daqueles setores, empresas e bancos, que provocaram a crise atual e o posterior ajuste das receitas da maior parte da população. Está muito longe do pensamento de Keynes subsidiar o mercado financeiro e rebaixar salários e aposentadorias.
6. Nem Smith nem Keynes merecem ser avaliados pelo que não são, estejamos ou não de acordo com seus postulados. Em troca, valorizá-los pelo que são vai nos ajudar a criar um pensamento próprio que responda a nossas próprias necessidades e circunstâncias históricas.
________________
(*) Idehesi/Conicet.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Página/12, na Carta Maior

Concordo com a afirmação do autor quando ele evidencia que toda teoria econômica deve ser considerada nos marcos de sua época, na vinculação do êxito e acertos na capacidade de decifrar e entender as tendências, os fenômenos históricos predominantes da época.
Cada crise, cada momento econômico é único, porém assumem características e consequências comparáveis a outros vistos. Na Europa do século XVIII Adam Smith via a emergência de um modelo capitalista, marcado pela Revolução industrial, mudanças políticas transformadoras. Na América do século XX, Keynes viveu e estudou, a primeira grande crise de um capitalismo emergente na teoria de Smith.
Hoje a formação de um economista é repleta de fases e fatos econômicos, que contribuem como um laboratório para análise e junção de teorias. Sínteses nos influenciam em tomadas de decisões e elaboração de novas teses importantes na etapa de formação e desenvolvimento como economista.
Nenhuma teoria econômica vai ser a única solução para o enfrentamento de uma crise, nem Smith nem Keynes, serão os únicos a terem seus modelos completos e não merecem ser avaliados pelo que não são, estejamos ou não de acordo com seus postulados, sempre algo nos ajudará a criar o nosso próprio pensamento e que responderá as nossas necessidades em nosso contexto atual.
O fato é que em momentos de oscilações econômicas e iminência de crise, Smith e Keynes sempre estarão presentes, intervir ou não na economia sempre será uma questão a ser debatida.
Priscilla Ribeiro de Souza

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A Grande Recessão: Friedman e Keynes

Alguns dos maiores nomes da economia se reuniram na Universidade de Chicago em novembro de 2002 para uma festa de aniversário de 90 anos da estrela mais brilhante de todos eles. Milton Friedman, ganhador do Nobel e pensador seminal, estava voltando para a universidade onde ele tinha feito seu nome.

Um dos oradores foi governador do Federal Reserve, Ben S. Bernanke. Em um discursoacadêmico, ele endossou a opinião de Friedman de que o Fed foi fundamental paracausar a Grande Depressão com uma política monetária restritiva que virou uma contração em algo muito, muito pior.

Ao concluir, ele abordou Friedman e Anna Schwartz, co-autores do magisterial "Uma História Monetária dos Estados Unidos", em que essa tese foi publicada originalmente."Eu gostaria de dizer a Milton e Anna ... quanto a Grande Depressão: Você está certo, nós fizemos isso. Lamentamos muito. Mas graças a você, não vamos fazer isso de novo ", disse Bernanke.

Ele manteve sua palavra. Quando a crise financeira e a recessão de seis anos mais tarde, Bernanke, agora presidente do Fed, seguido playbook Friedman monetarista para um "T": Ele inundou o sistema com liquidez e os bancos recheada de reservas em uma série de esforços desesperados para estancar o novo Grande Contração.

"Bernanke está seguindo um modelo monetarista depressão de prevenção estabelecidas pelo prêmio Nobel e libertária padroeiro Milton Friedman," a razão revista libertária escreveu em 2009. "Trilhões de dólares foram implantados nas descobertas de 'monetarismo' ... Uma série de políticas Fed libertários muitos acham repugnante estar sendo defendido por um homem que dizia tomar a sua principal inspiração do economista mais influente libertário do século 20. "

Enquanto isso, os presidentes Bush e Obama tomaram a rota de outro lendário teórico econômico, John Maynard Keynes. Em dois, talvez 2 1 / 2, pacotes de estímulo econômico, eles usaram todas as ferramentas keynesianas - descontos de imposto direto, cortes de impostos temporários, impulsionando o seguro-desemprego, resgatando governos estaduais e municipais e infra-estrutura de construção - para aumentar o consumo e, assim, compensar a queda acentuada na demanda privada.

O governo gastou quase US $ 1 trilhão em programas de estímulo. O Fed aumentou as suas reservas em US $ 2 trilhões. Agora, quase três anos após a queda do Lehman Brothers, o produto interno bruto está crescendo a menos de 3% ao ano, enquanto a taxa oficial de desemprego é de 9,1%. Adicionar aqueles que estão trabalhando em tempo parcial eo total é mais de 15%.

Teorias de um século anterior

Muitos economistas concordam que as medidas drásticas tomadas provavelmente impediu uma repetição da Grande Depressão. Mas a "recuperação" foi tão fraco que grande parte do público pensa, com razão, que nunca saiu da recessão

Verdade é que o Friedman e Keynes teriam encontrado a sua derrota em uma depressão de habitação que mostra poucos sinais de recuperação, uma crise financeira que suprimiu o crescimento e a iminente crise da dívida na Europa e os EUA.


Estamos testemunhando a colisão entre a teoria e a realidade. E quando isso acontece, não importa quão elegante ou persuasivo da teoria, a realidade sempre vence.

Leia Howard "Onde Liberais Failed" e "Onde os conservadores Failed" na AgendaIndependent.


John Maynard Keynes
"Essa coisa não funciona do jeito que costumava trabalhar", disse Mark Skousen, queedita o boletim Previsões e Estratégias de investimento e tem escrito vários livros sobre economia, incluindo "The Making of Modern Economics".

Análise marxista da crise do capitalismo: Marx versus Keynes

Na conferência do Partido Trabalhista de setembro de 2011, Ed Balls, o responsável de economia no partido, anunciou um novo "plano de cinco pontos para o crescimento", que consiste em:Um imposto sobre os lucros dos banqueiros.Fomentar planos de investimento em longo prazo.Reverter os recentes incrementos no IVA.Uma redução temporária do IVA sobre as melhorias nas moradas.Conceder às pequenas empresas que contratem trabalhadores adicionais em um ano de isenção no pagamento da segurança social.As medidas individuais a respeito de tal ou qual redução de impostos carecem de muita importância. O que deve ser examinado, no entanto, é a constante menção a respeito de impulsionar "políticas de crescimento" - uma linha que aparece constantemente no discurso dos dirigentes do Partido Laborista e dos dirigentes sindicais. O envolvimento de semelhante discurso é que os conservadores e outros governos burgueses seriam então contra o crescimento econômico!É claro que qualquer economista ou político se mostrará a favor do crescimento econômico, já que a vida é bem mais fácil para a classe dominante enquanto o bolo fica cada vez maior e umas quantas migalhas podem ser lançadas para as massas. O problema é que o crescimento sob o capitalismo não pode simplesmente aparecer como se se tirasse um coelho de uma cartola.Para estes homens e mulheres ingênuos na direção do movimento operário, a solução à crise econômica é simples: há que "estimular o crescimento". Eles veem a economia como um motor que parou e que só precisa uma faísca para se acender de novo. Mas o crescimento sob o capitalismo não pode ser gerado como se abre e se fecha uma torneira. Para já, se o crescimento pudesse ser criado à vontade, então não existiriam as recessões!Mostrem o dinheiro!Keynes é famoso sobretudo por seu defesa da intervenção governamental durante a Grande Depressão da década de 1930, que se refletiu em líderes como Roosevelt nos EUA, quem levou a cabo o "New Deal", em resposta à crise. A ideia era simples: o desemprego era alto, e estava atuando como um lastro para a procura. A "solução" era que o governo injetasse um estímulo em massa na economia mediante o início de grandes infraestrutura e programas de construção, tais como a barragem Hoover. A teoria era que, ao se reduzir o desemprego, os trabalhadores ganhariam salários que poderiam ser gastos com o fim de aumentar a procura. A necessidade de materiais e ferramentas nos programas de obras públicas também ajudou a encher os livros de encomendas de muitas empresas privadas.A realidade é, no entanto, que o New Deal não resolveu nada. A Grande Depressão prolongou-se até o início da Segunda Guerra Mundial. No entanto, os políticos e os economistas de hoje em dia, mais uma vez, olham para a ideia de um novo New Deal. O único problema é, no entanto, que os governos de todo mundo se ficaram sem dinheiro com que estimular suas economias. Após terem sucessivamente resgatado os bancos, a dívida soberana nos países capitalistas avançados já é demasiada alta como para obterem dinheiro de uns mercados financeiros nervosos.A intervenção do governo para estimular a economia pode soar como qualquer coisa simples, mas os governos não têm dinheiro próprio para gastar. Afinal, a despesa pública deve ser financiada mediante impostos ou mediante o déficit e o endividamento. No entanto, os mercados de crédito já se mostram preocupados com a capacidade dos governos para pagarem suas dívidas, sendo este o motivo pelo que a austeridade está sendo imposta à população em um país depois de outro. Entretanto, qualquer imposto adicional deve ser obtido dos trabalhadores ou das empresas, mas os impostos adicionais aos trabalhadores atuam como um corte nos salários e portanto cortam a procura, anulando a intenção original de estímulo do governo (ou seja, estimular a procura), enquanto o incremento de impostos às empresas reduzem os lucros, originando uma falta de capital e uma queda do investimento.Investimento e sobreproduçãoMarx explicou que é o investimento na produção por parte dos capitalistas o que constitui a força impulsionadora do capitalismo. A concorrência entre os diferentes capitalistas individuais obriga cada um a investir na produção na procura de maiores lucros. Ao investir em nova maquinaria e processos mais produtivos, um capitalista pode aumentar a produtividade da força de trabalho, e portanto produzir uma massa maior de mercadorias com menos trabalhadores. Isto, a sua vez, lhe permite ao capitalista reduzir seus custos e assim reduzir seus preços por baixo dos oferecidos por seus rivais. Deste modo, um capitalista individual pode ganhar quotas de mercado e obter grandes lucros. Estes lucros são, em sua maior parte, reinvestidos na produção pelos capitalistas, o que aumenta ainda mais a produtividade.Marx também explicou, no entanto, que existem contradições inerentes a este processo, derivadas do fato de que, por um lado, os trabalhadores só recebem em forma de salários uma fração do valor que produzem, ou seja, a riqueza que eles criam; mas que, por outra parte, estes salários em última instância, constituem o mercado, quer dizer, a procura efetiva para os produtos que estão produzindo. Isto leva a aquilo que Marx chamou uma "crise de sobreprodução", na qual os capitalistas não podem vender seus produtos e conseguir assim seus lucros. Sob o capitalismo, onde os meios de produção são de propriedade privada, a produção se dá com fins de lucro, portanto, quando o lucro não puder ser realizado, a produção será detida, enviando milhões de trabalhadores ao desemprego.Esta era a situação à qual se enfrentava o mundo durante a Grande Depressão e é a mesma à que a economia mundial se enfrenta agora. Não foi o New Deal ou qualquer outra medida keynesiana o que sacou o mundo da depressão na década de 1930, pois isto foi possível graças à grande destruição de capital durante a Segunda Guerra Mundial e a expansão do mercado mundial após a guerra. Estes fatores, entre muitos outros, são os que abriram o caminho para a "idade dourada" do capitalismo na década de 1950 e 60, quando a economia conseguiu seu crescimento mais rápido até este momento. Ted Grant explicou os fatores que permitiram o boom da posguerra em uma brochura titulada Haverá uma recessão?:"Quais são as razões básicas que explicam o que aconteceu na economia mundial durante o período posterior à Segunda Guerra Mundial?1. O fracasso político dos estalinistas e dos social-democratas, na Grã-Bretanha e Europa ocidental, que criou um clima político favorável para a recuperação do capitalismo.2. Os efeitos da guerra na destruição de bens de consumo e capital criaram um grande mercado (a guerra tem efeitos similares - embora mais profundos -na destruição de capital que uma recessão). Estes efeitos, segundo as estatísticas da ONU, não desapareceram até 1958.3. O Plano Marshall e outras ajudas econômicas destinadas à recuperação econômica da Europa Ocidental.4. O enorme aumento do investimento na indústria.5. O surgimiento de novas indústrias: plásticos, alumínio, aeronáutica, eletrônica, energia atômica, químicas, fibras artificiais, borrachas sintéticas, metais ligeiros, eletrodomésticos, gás natural, energia elétrica, atividade da construção...6. As enormes quantidades de capital fictício, criadas pela despesa em armamentos e que atingiu os 10 por cento do rendimento nacional na Grã-Bretanha e Estados Unidos.7. Os novos mercados para bens de capital nos países em via de desenvolvimento, proporcionando à burguesia local a oportunidade de desenvolver a indústria em uma escala não vista até então.8. Todos estes fatores interagiram entre eles. O aumento da procura de matérias-primas, através do desenvolvimento da indústria nos países metropolitanos, por sua vez, influi nos países subdesenvolvidos e vice-versa.9. O aumento do comércio entre os países capitalistas, especialmente em bens de capital e produtos de engenharia, devido ao aumento do investimento econômico, atuou nesse momento como um estímulo.10. O papel da intervenção estatal no impulso da atividade econômica.Todos estes fatores explicam o aumento da produção desde a guerra. Mas o fator decisivo foi o aparecimento de novos setores e ramos da produção onde investir capital, que é o principal motor da atividade econômica"(Ted Grant, Terá uma recessão?, 1960).De maneira similar, a economia mundial foi capaz de crescer durante os anos 1980 e 90 devido a uma combinação de outros fatores: a expansão do mercado à Rússia, Europa Oriental, e China, a mão de obra mais barata nestes países, que se pôs ao dispor do capitalismo, a maior exploração da classe operária nos países capitalistas avançados após a derrota do movimento operário e o falhanço dos sindicatos, e o uso do crédito para expandir artificialmente o mercado.Estes períodos de auge refletem-se nas cifras de rentabilidad do mercado de valores, calculados por Crédit Suisse e proporcionados por The Economist em um artigo sobre o rendimento dos ativos (The Economist, 15 de outubro de 2011). Entre 1949-1959, os rendimentos bolsistas reais a nível mundial foram de 562%. Graças ao papel do Plano Marshall e os outros fatores enumerados por Ted Grant citados acima, os dados da Alemanha e Japão durante o mesmo período foram de 4.094% e 1.565%. Os rendimentos bolsistas mundiais foram de 255% em 1980-1989 e 114% em 1990-99. Curiosamente, The Economist não proporciona os dados de 1931-38 nem de 1975-79.A profundidade da criseNada demonstra melhor a profundidade da crise atual que a falta total de investimento dos capitalistas na economia produtiva. No mesmo artigo citado, The Economist destaca que os capitalistas não estão investindo, apesar das margens de lucro que "estão próximos de seu máximo em 50 anos". A razão disto é o excesso de capacidade, isto é a sobreprodução, que já existe dentro do sistema. Por que investir na produção real quando já há muitos mais produtos dos que podem ser vendidos?Há um monte de dinheiro no mundo, mas acha-se concentrado em relativamente poucas mãos; umas mãos que se mostram renuentes a investir na produção. Como explica The Economist:"Quase todas as classes de ativos parecem estar cheias de perigos. As ações sofreram dois mercados em baixa em pouco mais de uma década, e seguem sendo vulneráveis à recessão do mundo rico, os bónus do governo oferecem pouca proteção contra o resurgimiento da inflação, os produtos básicos são volátiles e reféns de uma possível queda da procura chinesa, o setor imobiliário segue sofrendo de indigestão após o auge da última década".Em vez de investir sua riqueza na produção, a burguesia está pondo seu dinheiro na atividade especulativa. Portanto vemos o aumento do preço do ouro e de outros metais preciosos, do franco suíço (levando o governo suíço a intervir ativamente para manter sua moeda baixa) e outras moedas, bem como de produtos tais como os alimentos básicos e o petróleo. Esta especulação, por seu turno, contribui para a inflação.Em seu desespero, os governos viram-se empurrados para uma política de impressão de dinheiro mediante a "flexibilização quantitativa". Estão jogando dinheiro aos capitalistas, suplicando-lhes que invistam na produção real, criem empregos e façam com que a economia recresça. Os capitalistas, no entanto, não podem ser obrigados a investirem sua riqueza. Sob o capitalismo, o investimento faz-se em base à busca de lucros. Se não existirem perspetivas de os obter, o investimento na produção real detém-se.A necessidade do socialismoA senilidade do capitalismo e a natureza orgânica da crise atual - uma crise de sobreprodução - estão adequadamente demonstradas por esta falta de investimento que se observa atualmente na economia. Além disso, pode ser percebida a necessidade objetiva do socialismo, quer dizer, a necessidade de investir as enormes quantidades de riqueza que existem na sociedade, para satisfazer as necessidades das pessoas, não para a obtenção de lucros.Em lugar de olhar para Keynes e tratar de "estimular o crescimento" da economia, a direção do movimento operário deveria olhar para Marx e tomar o controle das alavancas fundamentais da economia. Concretamente, isto significa a nacionalização dos bancos e dos grandes monopólios - sem um cêntimo de indenização para os capitalistas - e utilizar estes ativos para os investir em aquilo que a sociedade decidir de forma democrática que precisa.Sob o capitalismo, o potencial produtivo da sociedade encontra-se limitado por duas grandes contradições: a propriedade privada dos meios de produção e o Estado nacional. Sob o socialismo, no entanto, o céu é o único limite.

Copom, PIB e o "chororô"

Copom, PIB e o "chororô"

Antonio Corrêa de Lacerda
De São Paulo

"Quando a realidade muda,
minhas convicções também mudam"

(John Maynard Keynes, 1883-1946)

A frase em epígrafe, do mais importante economista do século vinte, foi uma resposta a um interlocutor que o questionou porque havia mudado de opinião. É uma boa ilustração do momento vivido pela economia brasileira e das ações que temos que tomar para enfrentar os enormes desafios impostos pela nova realidade internacional de menor crescimento econômico, talvez recessão em muitos países, fase prolongada de juros muito baixos, até mesmo negativos e "guerra cambial" explicita.

A recente decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros e sinalizar que ela continuará em queda gerou uma grande discussão. De um lado, representantes do mercado financeiro aludindo uma improvável ingerência política na decisão. Do outro, muitos que, como eu, viram coerência e determinação na decisão correta.

O fato é que, interesses específicos à parte, o melhor mesmo para o País é adaptar rápida e antecipadamente o conjunto da política econômica para os "tempos bicudos" que se apresentam. É importante que haja previsibilidade, como querem alguns, nos movimentos das medidas econômicas, mas não podemos nos tornar reféns dela, nem mesmo torná-la instrumento de ganhos especulativos fáceis e sem risco, em detrimento do que é melhor para a Nação.

Assim, fez muito bem o Banco Central do Brasil (BCB) em considerar as novas circunstâncias, de uma economia internacional que está se deteriorando. É muito fácil criticar a decisão baseando-se unicamente nos indicadores passados. O difícil é perceber a dinâmica das variáveis e como elas impactarão os níveis de atividades, de preços e demais indicadores no futuro próximo.

Especialmente nos momentos de grande transição como o que enfrentamos, isso se torna ainda mais desafiador e é preciso contar com boas análises e ousadia para tomas as decisões mais acertadas.

Portanto, criticar a decisão de reduzir os juros com o argumento que a inflação acumulada nos últimos doze meses ultrapassou o teto de tolerância da meta, de 6,5%, é uma visão equivocada. Por varias razões:

Primeiro, porque inflação elevada não é uma particularidade brasileira. O mundo viveu até recentemente uma pressão de elevação de preços. A inflação acumulada em 12 meses é de 6,4%, na China. Há ainda países com inflação mais elevada que a nossa, como a Índia, com 8,7%, a Rússia, com 9,4%, a Argentina, cuja inflação oficial é de 9,7% e a campeã Venezuela com 24% !;

Segundo, porque inflação em alta é um fenômeno com data marcada para terminar. Assim que o cenário de desaquecimento, talvez recessão, se consolidar em economias como EUA, Europa e Japão, que representam mais da metade do PIB mundial, os preços vão cair. Se no passado recente tivemos o efeito da pressão inflacionária internacional, a direção vai se inverter, com a desinflação vinda de fora;

Terceiro, porque o nível de atividades da economia brasileira está em franca desaceleração e isso não se trata de um prognóstico. Basta verificar a evolução dos indicadores. O PIB brasileiro que vinha crescendo em doze meses a 9% no segundo trimestre do ano passado foi se desacelerando e subiu apenas 3,1% no segundo trimestre deste ano. Se nada ficarmos inertes, teremos uma recessão desnecessária à frente !;

Quarto: apesar da queda, continuamos no topo do "campeonato mundial de juros reais", muito distantes do segundo colocado e, mais ainda, da média mundial. Ficar nesta posição, com o mundo desenvolvido em crise, significará, além da queda do PIB, valorização adicional da taxa de cambio, desincentivo ao investimento produtivo e desperdício de recursos públicos para financiar a divida publica.

Portanto, nos deixemos impressionar pelo chororô de alguns analistas e operadores do mercado financeiro que tentam desqualificar a decisão do BCB e intimidá-lo para os próximos passos. Os membros do Copom já demonstraram sua independência, não apenas em relação ao Governo, mas também e principalmente, frente às pressões advindas de vozes nem sempre comprometidas com o interesse geral, mas segmentado.

Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Keynes e Friedman voltam à tona com crise americana

Na atual crise americana, dois economistas do século 20 são constantemente citados na imprensa e nas aulas nas universidades para saber o que fariam se estivessem vivos e com poder para comandar a economia dos Estados Unidos, que luta para crescer a um ritmo que reduza a taxa de desemprego de 9,6%.
De um lado, John Maynard Keynes, ícone de uma corrente política que leva o seu nome. De outro, Milton Friedman, pai do liberalismo econômico nos EUA. Nesta semana, o nome de um deles voltou à tona com a decisão do Federal Reserve (FED, Banco Central dos EUA) de emitir US$ 600 bilhões para comprar títulos do Tesouro americano. Como a ação é de política monetária, e não fiscal, o foco das discussões é Friedman.
Em artigo no Wall Street Journal, o editor do jornal, David Wessel, foi o primeiro a levantar a pergunta sobre como o professor da Universidade de Chicago e Nobel de Economia teria agido no que os americanos descrevem como "afrouxamento quantitativo" (a emissão para a compra dos títulos). Na avaliação do jornalista, Friedman apoiaria a decisão do presidente do Fed, Ben Bernanke. A base do argumento dele está em comentário feito pelo economista em situação paralela, durante a recessão japonesa nos anos 1990. "O Banco do Japão pode comprar títulos do governo no mercado aberto", escreveu Friedman na época, defendendo a intervenção monetária.
Paul Krugman, professor de Princeton e Nobel de Economia, concorda com Wessel sobre o que Friedman faria. Mas, de esquerda, ele ironiza lembrando que o Japão adotou esse conselho e a economia não conseguiu ser reativada. Já o professor Allan Meltzer, mais à direita, da Universidade Carnegie Mellon, argumenta que Friedman certamente seria contra, pois a principal mensagem dele "era manter as regras monetárias", além de deixar "o crescimento da oferta de dinheiro constante".
As posições diferentes representam os distintos pontos de vista da academia americana sobre como a política monetária pode ser utilizada para reaquecer a economia americana, segundo explicou ao Estado Helios Herrera, professor de Macroeconomia da Universidade Columbia, de Nova York.
Economistas mais conservadores, como Meltzer, consideram arriscado despejar dinheiro no mercado, como Bernanke fez agora, "pois existe o risco inflacionário", segundo Herrera. Outros, como Wessel, também liberais, acham que a política monetária usada por Bernanke pode ser mais eficiente do que o governo aumentar os gastos, correndo o risco de aumentar o déficit, como defende Krugman. "Especialmente quando a taxa de juros se aproxima do zero e não há muito o que fazer", disse o economista da Columbia.
A semana passada também revitalizou os debates sobre a política fiscal, com a vitória dos republicanos nas eleições para o Congresso e a pressão deles para que os cortes nos impostos, incluindo para os ricos, adotados na administração de George W. Bush e que expiram em dezembro, sejam prorrogados. O governo de Barack Obama quer voltar a elevar os impostos para os que recebem mais de US$ 250 mil por ano. "É típico da divisão entre direita e esquerda", diz Herrera. Na visão republicana, "com menos impostos, sobra mais dinheiro no mercado e a economia se reaquece". Os democratas preferem mais impostos porque o governo "poderá fazer mais gastos públicos". Basicamente, uns defendem o aumento do PIB através da iniciativa privada (republicanos), e outros com mais gastos públicos (democratas).
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo - 07 de novembro de 2010