quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Smith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica

mith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica
Smith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica
Por Mario Rapoport e Ricardo Lazzari
Adam Smith não representa, no entanto, completamente, a teoria ortodoxa atual que se impôs nos anos do neoliberalismo. Em sua época, o livre comércio supunha a competição de muitos capitalistas em resposta ao controle monopolista do comércio por parte de certas corporações privadas e estatais. Está muito longe do pensamento de Keynes subsidiar o mercado financeiro e rebaixar salários e aposentadorias
5de junho foi aniversário de nascimento de dois dos pensadores mais influentes na história da ciência econômica, Adam Smith e John Maynard Keynes. Muitos têm falado e escrito sobre eles, mas poucos fizeram uma comparação de suas vidas e de suas obras, e esta é a ocasião para fazê-lo, no momento em que o capitalismo, sistema que um deles impulsionou e o outro tentou salvar, debate-se em uma profunda crise. Nosso objetivo é expor, em grandes linhas, algumas de suas coincidências e diferenças, o que nos permitirá compreender, também, os limites do sistema econômico em que vivemos.
1. Toda teoria econômica deve ser considerada nos marcos de sua época e as ideias de ambos tiveram a ver com a problemática que tocou a viver a cada um. As razões dos êxitos que os acompanhou estão vinculadas com seus acertos em decifrar e entender as tendências e fenômenos históricos predominantes. No caso de Adam Smith, a emergência de um modelo capitalista de desenvolvimento na Europa do século XVIII, marcado pela Revolução Industrial no plano econômico e por mudanças políticas que destruíram ou restringiram privilégios das monarquias absolutas. No de Keynes, a época do declínio e da primeira grande crise do capitalismo, que não começou, como assinala ele próprio em seus Ensaios de Persuasão (1931), com a queda da Bolsa de Wall Street em 1929, mas sim antes, no primeiro pós-guerra, através de sintomas sobre os quais advertiu precocemente, como o fim do padrão ouro e os desequilíbrios crescentes do sistema econômico internacional. Uma evolução histórica que coincide com sua etapa de formação e desenvolvimento como economista.
2. Nem um nem outro foram meramente economistas. Entenderam a ciência econômica como fazendo parte de saberes mais amplos que permitiam uma compreensão das sociedades de seu tempo e da natureza dos indivíduos que as constituíam. Adam Smith iniciou sua carreira universitária como titular da cadeira de Lógica e Filosofia Moral, na Universidade de Glasgow, onde elaborou, progressivamente, suas teorias sobre o direito, a moral e o Estado, que se plasmaram em sua obra “Teoria dos Sentimentos Morais” (1759) e em suas “Leituras sobre Jurisprudência”. Sua teoria econômica deriva de suas concepções éticas onde o egoísmo domina a esfera econômica enquanto que o altruísmo funda as bases da vida social. Neste sentido, não é possível compreender sua obra principal, “A Riqueza das Nações” (1776), sem relacioná-la com um corpus ideológico e filosófico no qual se enquadram suas contribuições para a economia política.
Keynes também tinha uma formação filosófica e uma visão mais ampla da realidade de sua época. Não era viciado nos modelos econométricos que só podiam apreender aspectos limitados da realidade e, ainda que professor em Cambridge e funcionário em distintos momentos de sua vida, caracterizava-se a sim mesmo, irônica ou modestamente, como um “publicista”, um autor que escreve para o pública de forma periódica com o objetivo de difundir suas ideias. Em todo caso, para Keynes, todo economista deveria possuir uma rara combinação de qualidades: matemático, historiador, homem político e filósofo. Estudar o presente à luz do passado e com a perspectiva do futuro, sem deixar de lado nenhuma das instituições criadas pelo homem.
3. Ambos concebiam o capitalismo como um sistema. Não obstante, para Smith, era o estágio mais elevado na evolução econômica. Keynes, em troca, considerava esse sistema como uma fase no desenvolvimento histórico da humanidade, ainda que a mais conveniente no momento. Adam Smith viu a economia como um todo orgânico, natural que, por meio do mercado, tende a um equilíbrio. O homem, ao perseguir seu próprio interesse individual buscando o máximo benefício, trabalha necessariamente para fazer com que a receita anual de uma sociedade seja a máxima possível. Ele é levado a isso por “uma mão invisível” que “o conduz a promover um fim que não estava em suas intenções”. Em troca, Keynes diz, criticando o laissez faire, que “não é verdade que os indivíduos possuem, a título prescritivo, uma liberdade natural no exercício de suas atividades econômicas”. Não existe, segundo ele, nenhum pacto que possa conferir direitos perpétuos aos proprietários de bens. Além disso, não é correto deduzir dos princípios da economia política que o mundo é governado pela Providência, e que o interesse pessoal trabalha sempre em favor do interesse geral.
4. As teorias de ambos tentavam modificar determinadas condições econômicas e políticas. Em “A Riqueza das Nações”, destaca-se a preocupação de Smith com as políticas mercantilistas que caracterizavam os monopólios coloniais. O livre comércio era uma condição necessária para o florescimento da competição, dos baixos preços e da expansão dos mercados. Em consequência, a divisão do trabalho, principal motor do incremento das forças produtivas, não encontraria travas para sua completa generalização e derivaria em uma maior riqueza das nações. Alguns de seus seguidores deduziram disso que as crises seriam impossíveis dentro do sistema na medida em que o poder de compra do mercado dependeria da ampliação da produção e das receitas que isso geraria.
Pelo contrário, Keynes demonstrou em sua “Teoria Geral” (1936) – e os anos 20 e 30 dariam razão a ele – que o aumento das receitas pode não resultar em um crescimento similar do consumo, e aquela parte que se poupa não necessariamente é dirigida para a atividade produtiva, diretamente ou por meio de financiamento. Essa insuficiência nos níveis de consumo e investimento, que não cobrem a oferta existente, traz graves consequências sobre o produto e o emprego, originando as crises. Deste modo, como diz Joan Robinson, o economista inglês retoma o problema moral que a teoria do livre mercado havia aparentemente abolido: sua incapacidade para gerar ocupação plena e a necessidade de formas de regulação do sistema econômico. Diante desse diagnóstico, competiria ao Estado garantir o pleno emprego: aumentando o gasto público, reformando o sistema fiscal, melhorando a distribuição de renda e regulando o comércio exterior.
5. Adam Smith não representa, no entanto, completamente, a teoria ortodoxa atual que se impôs nos anos do neoliberalismo. Em sua época, o livre comércio supunha a competição de muitos capitalistas em resposta ao controle monopolista do comércio por parte de certas corporações privadas e estatais. Hoje, em um mundo marcado por companhias multinacionais de caráter oligopólico, o mesmo princípio implica o domínio dos mercados por parte de umas poucas empresas que determinam a produção e os preços, captando para si a maior parte do excedente gerado pela acumulação do capital, tanto na esfera propriamente econômica como na financeira. Por sua parte, as políticas keynesianas tampouco significam que a intervenção do Estado consista no resgate daqueles setores, empresas e bancos, que provocaram a crise atual e o posterior ajuste das receitas da maior parte da população. Está muito longe do pensamento de Keynes subsidiar o mercado financeiro e rebaixar salários e aposentadorias.
6. Nem Smith nem Keynes merecem ser avaliados pelo que não são, estejamos ou não de acordo com seus postulados. Em troca, valorizá-los pelo que são vai nos ajudar a criar um pensamento próprio que responda a nossas próprias necessidades e circunstâncias históricas.
________________
(*) Idehesi/Conicet.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Página/12, na Carta Maior

Concordo com a afirmação do autor quando ele evidencia que toda teoria econômica deve ser considerada nos marcos de sua época, na vinculação do êxito e acertos na capacidade de decifrar e entender as tendências, os fenômenos históricos predominantes da época.
Cada crise, cada momento econômico é único, porém assumem características e consequências comparáveis a outros vistos. Na Europa do século XVIII Adam Smith via a emergência de um modelo capitalista, marcado pela Revolução industrial, mudanças políticas transformadoras. Na América do século XX, Keynes viveu e estudou, a primeira grande crise de um capitalismo emergente na teoria de Smith.
Hoje a formação de um economista é repleta de fases e fatos econômicos, que contribuem como um laboratório para análise e junção de teorias. Sínteses nos influenciam em tomadas de decisões e elaboração de novas teses importantes na etapa de formação e desenvolvimento como economista.
Nenhuma teoria econômica vai ser a única solução para o enfrentamento de uma crise, nem Smith nem Keynes, serão os únicos a terem seus modelos completos e não merecem ser avaliados pelo que não são, estejamos ou não de acordo com seus postulados, sempre algo nos ajudará a criar o nosso próprio pensamento e que responderá as nossas necessidades em nosso contexto atual.
O fato é que em momentos de oscilações econômicas e iminência de crise, Smith e Keynes sempre estarão presentes, intervir ou não na economia sempre será uma questão a ser debatida.
Priscilla Ribeiro de Souza

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A Grande Recessão: Friedman e Keynes

Alguns dos maiores nomes da economia se reuniram na Universidade de Chicago em novembro de 2002 para uma festa de aniversário de 90 anos da estrela mais brilhante de todos eles. Milton Friedman, ganhador do Nobel e pensador seminal, estava voltando para a universidade onde ele tinha feito seu nome.

Um dos oradores foi governador do Federal Reserve, Ben S. Bernanke. Em um discursoacadêmico, ele endossou a opinião de Friedman de que o Fed foi fundamental paracausar a Grande Depressão com uma política monetária restritiva que virou uma contração em algo muito, muito pior.

Ao concluir, ele abordou Friedman e Anna Schwartz, co-autores do magisterial "Uma História Monetária dos Estados Unidos", em que essa tese foi publicada originalmente."Eu gostaria de dizer a Milton e Anna ... quanto a Grande Depressão: Você está certo, nós fizemos isso. Lamentamos muito. Mas graças a você, não vamos fazer isso de novo ", disse Bernanke.

Ele manteve sua palavra. Quando a crise financeira e a recessão de seis anos mais tarde, Bernanke, agora presidente do Fed, seguido playbook Friedman monetarista para um "T": Ele inundou o sistema com liquidez e os bancos recheada de reservas em uma série de esforços desesperados para estancar o novo Grande Contração.

"Bernanke está seguindo um modelo monetarista depressão de prevenção estabelecidas pelo prêmio Nobel e libertária padroeiro Milton Friedman," a razão revista libertária escreveu em 2009. "Trilhões de dólares foram implantados nas descobertas de 'monetarismo' ... Uma série de políticas Fed libertários muitos acham repugnante estar sendo defendido por um homem que dizia tomar a sua principal inspiração do economista mais influente libertário do século 20. "

Enquanto isso, os presidentes Bush e Obama tomaram a rota de outro lendário teórico econômico, John Maynard Keynes. Em dois, talvez 2 1 / 2, pacotes de estímulo econômico, eles usaram todas as ferramentas keynesianas - descontos de imposto direto, cortes de impostos temporários, impulsionando o seguro-desemprego, resgatando governos estaduais e municipais e infra-estrutura de construção - para aumentar o consumo e, assim, compensar a queda acentuada na demanda privada.

O governo gastou quase US $ 1 trilhão em programas de estímulo. O Fed aumentou as suas reservas em US $ 2 trilhões. Agora, quase três anos após a queda do Lehman Brothers, o produto interno bruto está crescendo a menos de 3% ao ano, enquanto a taxa oficial de desemprego é de 9,1%. Adicionar aqueles que estão trabalhando em tempo parcial eo total é mais de 15%.

Teorias de um século anterior

Muitos economistas concordam que as medidas drásticas tomadas provavelmente impediu uma repetição da Grande Depressão. Mas a "recuperação" foi tão fraco que grande parte do público pensa, com razão, que nunca saiu da recessão

Verdade é que o Friedman e Keynes teriam encontrado a sua derrota em uma depressão de habitação que mostra poucos sinais de recuperação, uma crise financeira que suprimiu o crescimento e a iminente crise da dívida na Europa e os EUA.


Estamos testemunhando a colisão entre a teoria e a realidade. E quando isso acontece, não importa quão elegante ou persuasivo da teoria, a realidade sempre vence.

Leia Howard "Onde Liberais Failed" e "Onde os conservadores Failed" na AgendaIndependent.


John Maynard Keynes
"Essa coisa não funciona do jeito que costumava trabalhar", disse Mark Skousen, queedita o boletim Previsões e Estratégias de investimento e tem escrito vários livros sobre economia, incluindo "The Making of Modern Economics".

Análise marxista da crise do capitalismo: Marx versus Keynes

Na conferência do Partido Trabalhista de setembro de 2011, Ed Balls, o responsável de economia no partido, anunciou um novo "plano de cinco pontos para o crescimento", que consiste em:Um imposto sobre os lucros dos banqueiros.Fomentar planos de investimento em longo prazo.Reverter os recentes incrementos no IVA.Uma redução temporária do IVA sobre as melhorias nas moradas.Conceder às pequenas empresas que contratem trabalhadores adicionais em um ano de isenção no pagamento da segurança social.As medidas individuais a respeito de tal ou qual redução de impostos carecem de muita importância. O que deve ser examinado, no entanto, é a constante menção a respeito de impulsionar "políticas de crescimento" - uma linha que aparece constantemente no discurso dos dirigentes do Partido Laborista e dos dirigentes sindicais. O envolvimento de semelhante discurso é que os conservadores e outros governos burgueses seriam então contra o crescimento econômico!É claro que qualquer economista ou político se mostrará a favor do crescimento econômico, já que a vida é bem mais fácil para a classe dominante enquanto o bolo fica cada vez maior e umas quantas migalhas podem ser lançadas para as massas. O problema é que o crescimento sob o capitalismo não pode simplesmente aparecer como se se tirasse um coelho de uma cartola.Para estes homens e mulheres ingênuos na direção do movimento operário, a solução à crise econômica é simples: há que "estimular o crescimento". Eles veem a economia como um motor que parou e que só precisa uma faísca para se acender de novo. Mas o crescimento sob o capitalismo não pode ser gerado como se abre e se fecha uma torneira. Para já, se o crescimento pudesse ser criado à vontade, então não existiriam as recessões!Mostrem o dinheiro!Keynes é famoso sobretudo por seu defesa da intervenção governamental durante a Grande Depressão da década de 1930, que se refletiu em líderes como Roosevelt nos EUA, quem levou a cabo o "New Deal", em resposta à crise. A ideia era simples: o desemprego era alto, e estava atuando como um lastro para a procura. A "solução" era que o governo injetasse um estímulo em massa na economia mediante o início de grandes infraestrutura e programas de construção, tais como a barragem Hoover. A teoria era que, ao se reduzir o desemprego, os trabalhadores ganhariam salários que poderiam ser gastos com o fim de aumentar a procura. A necessidade de materiais e ferramentas nos programas de obras públicas também ajudou a encher os livros de encomendas de muitas empresas privadas.A realidade é, no entanto, que o New Deal não resolveu nada. A Grande Depressão prolongou-se até o início da Segunda Guerra Mundial. No entanto, os políticos e os economistas de hoje em dia, mais uma vez, olham para a ideia de um novo New Deal. O único problema é, no entanto, que os governos de todo mundo se ficaram sem dinheiro com que estimular suas economias. Após terem sucessivamente resgatado os bancos, a dívida soberana nos países capitalistas avançados já é demasiada alta como para obterem dinheiro de uns mercados financeiros nervosos.A intervenção do governo para estimular a economia pode soar como qualquer coisa simples, mas os governos não têm dinheiro próprio para gastar. Afinal, a despesa pública deve ser financiada mediante impostos ou mediante o déficit e o endividamento. No entanto, os mercados de crédito já se mostram preocupados com a capacidade dos governos para pagarem suas dívidas, sendo este o motivo pelo que a austeridade está sendo imposta à população em um país depois de outro. Entretanto, qualquer imposto adicional deve ser obtido dos trabalhadores ou das empresas, mas os impostos adicionais aos trabalhadores atuam como um corte nos salários e portanto cortam a procura, anulando a intenção original de estímulo do governo (ou seja, estimular a procura), enquanto o incremento de impostos às empresas reduzem os lucros, originando uma falta de capital e uma queda do investimento.Investimento e sobreproduçãoMarx explicou que é o investimento na produção por parte dos capitalistas o que constitui a força impulsionadora do capitalismo. A concorrência entre os diferentes capitalistas individuais obriga cada um a investir na produção na procura de maiores lucros. Ao investir em nova maquinaria e processos mais produtivos, um capitalista pode aumentar a produtividade da força de trabalho, e portanto produzir uma massa maior de mercadorias com menos trabalhadores. Isto, a sua vez, lhe permite ao capitalista reduzir seus custos e assim reduzir seus preços por baixo dos oferecidos por seus rivais. Deste modo, um capitalista individual pode ganhar quotas de mercado e obter grandes lucros. Estes lucros são, em sua maior parte, reinvestidos na produção pelos capitalistas, o que aumenta ainda mais a produtividade.Marx também explicou, no entanto, que existem contradições inerentes a este processo, derivadas do fato de que, por um lado, os trabalhadores só recebem em forma de salários uma fração do valor que produzem, ou seja, a riqueza que eles criam; mas que, por outra parte, estes salários em última instância, constituem o mercado, quer dizer, a procura efetiva para os produtos que estão produzindo. Isto leva a aquilo que Marx chamou uma "crise de sobreprodução", na qual os capitalistas não podem vender seus produtos e conseguir assim seus lucros. Sob o capitalismo, onde os meios de produção são de propriedade privada, a produção se dá com fins de lucro, portanto, quando o lucro não puder ser realizado, a produção será detida, enviando milhões de trabalhadores ao desemprego.Esta era a situação à qual se enfrentava o mundo durante a Grande Depressão e é a mesma à que a economia mundial se enfrenta agora. Não foi o New Deal ou qualquer outra medida keynesiana o que sacou o mundo da depressão na década de 1930, pois isto foi possível graças à grande destruição de capital durante a Segunda Guerra Mundial e a expansão do mercado mundial após a guerra. Estes fatores, entre muitos outros, são os que abriram o caminho para a "idade dourada" do capitalismo na década de 1950 e 60, quando a economia conseguiu seu crescimento mais rápido até este momento. Ted Grant explicou os fatores que permitiram o boom da posguerra em uma brochura titulada Haverá uma recessão?:"Quais são as razões básicas que explicam o que aconteceu na economia mundial durante o período posterior à Segunda Guerra Mundial?1. O fracasso político dos estalinistas e dos social-democratas, na Grã-Bretanha e Europa ocidental, que criou um clima político favorável para a recuperação do capitalismo.2. Os efeitos da guerra na destruição de bens de consumo e capital criaram um grande mercado (a guerra tem efeitos similares - embora mais profundos -na destruição de capital que uma recessão). Estes efeitos, segundo as estatísticas da ONU, não desapareceram até 1958.3. O Plano Marshall e outras ajudas econômicas destinadas à recuperação econômica da Europa Ocidental.4. O enorme aumento do investimento na indústria.5. O surgimiento de novas indústrias: plásticos, alumínio, aeronáutica, eletrônica, energia atômica, químicas, fibras artificiais, borrachas sintéticas, metais ligeiros, eletrodomésticos, gás natural, energia elétrica, atividade da construção...6. As enormes quantidades de capital fictício, criadas pela despesa em armamentos e que atingiu os 10 por cento do rendimento nacional na Grã-Bretanha e Estados Unidos.7. Os novos mercados para bens de capital nos países em via de desenvolvimento, proporcionando à burguesia local a oportunidade de desenvolver a indústria em uma escala não vista até então.8. Todos estes fatores interagiram entre eles. O aumento da procura de matérias-primas, através do desenvolvimento da indústria nos países metropolitanos, por sua vez, influi nos países subdesenvolvidos e vice-versa.9. O aumento do comércio entre os países capitalistas, especialmente em bens de capital e produtos de engenharia, devido ao aumento do investimento econômico, atuou nesse momento como um estímulo.10. O papel da intervenção estatal no impulso da atividade econômica.Todos estes fatores explicam o aumento da produção desde a guerra. Mas o fator decisivo foi o aparecimento de novos setores e ramos da produção onde investir capital, que é o principal motor da atividade econômica"(Ted Grant, Terá uma recessão?, 1960).De maneira similar, a economia mundial foi capaz de crescer durante os anos 1980 e 90 devido a uma combinação de outros fatores: a expansão do mercado à Rússia, Europa Oriental, e China, a mão de obra mais barata nestes países, que se pôs ao dispor do capitalismo, a maior exploração da classe operária nos países capitalistas avançados após a derrota do movimento operário e o falhanço dos sindicatos, e o uso do crédito para expandir artificialmente o mercado.Estes períodos de auge refletem-se nas cifras de rentabilidad do mercado de valores, calculados por Crédit Suisse e proporcionados por The Economist em um artigo sobre o rendimento dos ativos (The Economist, 15 de outubro de 2011). Entre 1949-1959, os rendimentos bolsistas reais a nível mundial foram de 562%. Graças ao papel do Plano Marshall e os outros fatores enumerados por Ted Grant citados acima, os dados da Alemanha e Japão durante o mesmo período foram de 4.094% e 1.565%. Os rendimentos bolsistas mundiais foram de 255% em 1980-1989 e 114% em 1990-99. Curiosamente, The Economist não proporciona os dados de 1931-38 nem de 1975-79.A profundidade da criseNada demonstra melhor a profundidade da crise atual que a falta total de investimento dos capitalistas na economia produtiva. No mesmo artigo citado, The Economist destaca que os capitalistas não estão investindo, apesar das margens de lucro que "estão próximos de seu máximo em 50 anos". A razão disto é o excesso de capacidade, isto é a sobreprodução, que já existe dentro do sistema. Por que investir na produção real quando já há muitos mais produtos dos que podem ser vendidos?Há um monte de dinheiro no mundo, mas acha-se concentrado em relativamente poucas mãos; umas mãos que se mostram renuentes a investir na produção. Como explica The Economist:"Quase todas as classes de ativos parecem estar cheias de perigos. As ações sofreram dois mercados em baixa em pouco mais de uma década, e seguem sendo vulneráveis à recessão do mundo rico, os bónus do governo oferecem pouca proteção contra o resurgimiento da inflação, os produtos básicos são volátiles e reféns de uma possível queda da procura chinesa, o setor imobiliário segue sofrendo de indigestão após o auge da última década".Em vez de investir sua riqueza na produção, a burguesia está pondo seu dinheiro na atividade especulativa. Portanto vemos o aumento do preço do ouro e de outros metais preciosos, do franco suíço (levando o governo suíço a intervir ativamente para manter sua moeda baixa) e outras moedas, bem como de produtos tais como os alimentos básicos e o petróleo. Esta especulação, por seu turno, contribui para a inflação.Em seu desespero, os governos viram-se empurrados para uma política de impressão de dinheiro mediante a "flexibilização quantitativa". Estão jogando dinheiro aos capitalistas, suplicando-lhes que invistam na produção real, criem empregos e façam com que a economia recresça. Os capitalistas, no entanto, não podem ser obrigados a investirem sua riqueza. Sob o capitalismo, o investimento faz-se em base à busca de lucros. Se não existirem perspetivas de os obter, o investimento na produção real detém-se.A necessidade do socialismoA senilidade do capitalismo e a natureza orgânica da crise atual - uma crise de sobreprodução - estão adequadamente demonstradas por esta falta de investimento que se observa atualmente na economia. Além disso, pode ser percebida a necessidade objetiva do socialismo, quer dizer, a necessidade de investir as enormes quantidades de riqueza que existem na sociedade, para satisfazer as necessidades das pessoas, não para a obtenção de lucros.Em lugar de olhar para Keynes e tratar de "estimular o crescimento" da economia, a direção do movimento operário deveria olhar para Marx e tomar o controle das alavancas fundamentais da economia. Concretamente, isto significa a nacionalização dos bancos e dos grandes monopólios - sem um cêntimo de indenização para os capitalistas - e utilizar estes ativos para os investir em aquilo que a sociedade decidir de forma democrática que precisa.Sob o capitalismo, o potencial produtivo da sociedade encontra-se limitado por duas grandes contradições: a propriedade privada dos meios de produção e o Estado nacional. Sob o socialismo, no entanto, o céu é o único limite.

Copom, PIB e o "chororô"

Copom, PIB e o "chororô"

Antonio Corrêa de Lacerda
De São Paulo

"Quando a realidade muda,
minhas convicções também mudam"

(John Maynard Keynes, 1883-1946)

A frase em epígrafe, do mais importante economista do século vinte, foi uma resposta a um interlocutor que o questionou porque havia mudado de opinião. É uma boa ilustração do momento vivido pela economia brasileira e das ações que temos que tomar para enfrentar os enormes desafios impostos pela nova realidade internacional de menor crescimento econômico, talvez recessão em muitos países, fase prolongada de juros muito baixos, até mesmo negativos e "guerra cambial" explicita.

A recente decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros e sinalizar que ela continuará em queda gerou uma grande discussão. De um lado, representantes do mercado financeiro aludindo uma improvável ingerência política na decisão. Do outro, muitos que, como eu, viram coerência e determinação na decisão correta.

O fato é que, interesses específicos à parte, o melhor mesmo para o País é adaptar rápida e antecipadamente o conjunto da política econômica para os "tempos bicudos" que se apresentam. É importante que haja previsibilidade, como querem alguns, nos movimentos das medidas econômicas, mas não podemos nos tornar reféns dela, nem mesmo torná-la instrumento de ganhos especulativos fáceis e sem risco, em detrimento do que é melhor para a Nação.

Assim, fez muito bem o Banco Central do Brasil (BCB) em considerar as novas circunstâncias, de uma economia internacional que está se deteriorando. É muito fácil criticar a decisão baseando-se unicamente nos indicadores passados. O difícil é perceber a dinâmica das variáveis e como elas impactarão os níveis de atividades, de preços e demais indicadores no futuro próximo.

Especialmente nos momentos de grande transição como o que enfrentamos, isso se torna ainda mais desafiador e é preciso contar com boas análises e ousadia para tomas as decisões mais acertadas.

Portanto, criticar a decisão de reduzir os juros com o argumento que a inflação acumulada nos últimos doze meses ultrapassou o teto de tolerância da meta, de 6,5%, é uma visão equivocada. Por varias razões:

Primeiro, porque inflação elevada não é uma particularidade brasileira. O mundo viveu até recentemente uma pressão de elevação de preços. A inflação acumulada em 12 meses é de 6,4%, na China. Há ainda países com inflação mais elevada que a nossa, como a Índia, com 8,7%, a Rússia, com 9,4%, a Argentina, cuja inflação oficial é de 9,7% e a campeã Venezuela com 24% !;

Segundo, porque inflação em alta é um fenômeno com data marcada para terminar. Assim que o cenário de desaquecimento, talvez recessão, se consolidar em economias como EUA, Europa e Japão, que representam mais da metade do PIB mundial, os preços vão cair. Se no passado recente tivemos o efeito da pressão inflacionária internacional, a direção vai se inverter, com a desinflação vinda de fora;

Terceiro, porque o nível de atividades da economia brasileira está em franca desaceleração e isso não se trata de um prognóstico. Basta verificar a evolução dos indicadores. O PIB brasileiro que vinha crescendo em doze meses a 9% no segundo trimestre do ano passado foi se desacelerando e subiu apenas 3,1% no segundo trimestre deste ano. Se nada ficarmos inertes, teremos uma recessão desnecessária à frente !;

Quarto: apesar da queda, continuamos no topo do "campeonato mundial de juros reais", muito distantes do segundo colocado e, mais ainda, da média mundial. Ficar nesta posição, com o mundo desenvolvido em crise, significará, além da queda do PIB, valorização adicional da taxa de cambio, desincentivo ao investimento produtivo e desperdício de recursos públicos para financiar a divida publica.

Portanto, nos deixemos impressionar pelo chororô de alguns analistas e operadores do mercado financeiro que tentam desqualificar a decisão do BCB e intimidá-lo para os próximos passos. Os membros do Copom já demonstraram sua independência, não apenas em relação ao Governo, mas também e principalmente, frente às pressões advindas de vozes nem sempre comprometidas com o interesse geral, mas segmentado.

Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Keynes e Friedman voltam à tona com crise americana

Na atual crise americana, dois economistas do século 20 são constantemente citados na imprensa e nas aulas nas universidades para saber o que fariam se estivessem vivos e com poder para comandar a economia dos Estados Unidos, que luta para crescer a um ritmo que reduza a taxa de desemprego de 9,6%.
De um lado, John Maynard Keynes, ícone de uma corrente política que leva o seu nome. De outro, Milton Friedman, pai do liberalismo econômico nos EUA. Nesta semana, o nome de um deles voltou à tona com a decisão do Federal Reserve (FED, Banco Central dos EUA) de emitir US$ 600 bilhões para comprar títulos do Tesouro americano. Como a ação é de política monetária, e não fiscal, o foco das discussões é Friedman.
Em artigo no Wall Street Journal, o editor do jornal, David Wessel, foi o primeiro a levantar a pergunta sobre como o professor da Universidade de Chicago e Nobel de Economia teria agido no que os americanos descrevem como "afrouxamento quantitativo" (a emissão para a compra dos títulos). Na avaliação do jornalista, Friedman apoiaria a decisão do presidente do Fed, Ben Bernanke. A base do argumento dele está em comentário feito pelo economista em situação paralela, durante a recessão japonesa nos anos 1990. "O Banco do Japão pode comprar títulos do governo no mercado aberto", escreveu Friedman na época, defendendo a intervenção monetária.
Paul Krugman, professor de Princeton e Nobel de Economia, concorda com Wessel sobre o que Friedman faria. Mas, de esquerda, ele ironiza lembrando que o Japão adotou esse conselho e a economia não conseguiu ser reativada. Já o professor Allan Meltzer, mais à direita, da Universidade Carnegie Mellon, argumenta que Friedman certamente seria contra, pois a principal mensagem dele "era manter as regras monetárias", além de deixar "o crescimento da oferta de dinheiro constante".
As posições diferentes representam os distintos pontos de vista da academia americana sobre como a política monetária pode ser utilizada para reaquecer a economia americana, segundo explicou ao Estado Helios Herrera, professor de Macroeconomia da Universidade Columbia, de Nova York.
Economistas mais conservadores, como Meltzer, consideram arriscado despejar dinheiro no mercado, como Bernanke fez agora, "pois existe o risco inflacionário", segundo Herrera. Outros, como Wessel, também liberais, acham que a política monetária usada por Bernanke pode ser mais eficiente do que o governo aumentar os gastos, correndo o risco de aumentar o déficit, como defende Krugman. "Especialmente quando a taxa de juros se aproxima do zero e não há muito o que fazer", disse o economista da Columbia.
A semana passada também revitalizou os debates sobre a política fiscal, com a vitória dos republicanos nas eleições para o Congresso e a pressão deles para que os cortes nos impostos, incluindo para os ricos, adotados na administração de George W. Bush e que expiram em dezembro, sejam prorrogados. O governo de Barack Obama quer voltar a elevar os impostos para os que recebem mais de US$ 250 mil por ano. "É típico da divisão entre direita e esquerda", diz Herrera. Na visão republicana, "com menos impostos, sobra mais dinheiro no mercado e a economia se reaquece". Os democratas preferem mais impostos porque o governo "poderá fazer mais gastos públicos". Basicamente, uns defendem o aumento do PIB através da iniciativa privada (republicanos), e outros com mais gastos públicos (democratas).
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo - 07 de novembro de 2010

Friedman vs Keynes

Keynes

Friedman

Seu quadro é baseado em gastos e demanda, os determinantes dos componentes dos gastos, a teoria preferência pela liquidez das taxas de juros de curto prazo, ea exigência de que o governo faça intervenções estratégicas, mas poderosa na economia para mantê-lo em equilíbrio e evitar extremos de depressão e excesso de mania.

Sua teoria foi um dos juros, emprego e dinheiro.

Ao quadro de Keynes, Friedman acrescentou uma teoria dos preços e da inflação, baseado na idéia da taxa natural de desemprego e os limites da política do governo na estabilização da economia em torno de sua tendência de crescimento de longo prazo - limite além do qual a intervenção provocaria incontroláveis ​​e destrutivas inflação.

A experiência da Grande Depressão levou Keynes e seus sucessores mais ortodoxos grandementesubestimar o papel ea influência da política monetária.

Friedman, em uma campanha de 30 anos, a contar com a sua e "Anna J Schwartz Uma História Monetária do Estados Unidos "Restaurado o equilíbrio. Ele deu destaque para a política monetária.

Friedman e Keynes ambos concordaram que a gestão macroeconômica bem-sucedida foi necessário - que a economia privada por conta própria pode muito bem ser sujeitos à instabilidade insuportável - e que a intervenção estratégica, poderoso, mas limitado econômica do governo era necessária para manter a estabilidade.

Para Keynes, a chave foi manter a soma dos gastos do governo e estável o investimento privado.

Para Friedman a chave foi manter a oferta de dinheiro- a quantidade de poder de compra em forma facilmente spendable nas mãos de empresas e famílias - estável.

Keynes viu-se como o inimigo do laissez-faire e umdefensor da gestão pública. Funcionários do governo inteligente de boa vontade, ele pensou, poderia projetar instituições econômicas que seria superior ao de mercado - ou pelo menos poderia ajustar o mercado com impostos, subsídios e regulamentos para produzir resultados superiores.Simplesmente não era o caso, Keynes argumentou, que os incentivos privados desses ativos no mercado estavam alinhados com o bem público.Tecnocracia era a fé de Keynes: os peritos qualificados concepção e fine-tuning instituições fora da bondade de seus corações para tornar possível a prosperidade geral - como Keynes, de fato, fez em Bretton Woods, onde o Banco Mundial eo FMI foram criados.

Na sua opinião, que normalmente era o caso que osinteresses do mercado privado estavam alinhados com o bem público: episódios de falha de mercado importantes e significativas foram a exceção, e não a regra, e laissez-faire foi uma boa primeira aproximação. Além disso, Friedman acreditava que mesmo quando os interesses privados não estavam alinhados com os interesses públicos, os governos não pode ser invocado para resolver o problema.Falhas de governo, Friedman argumentou, foi maior e mais terrível do que falhas de mercado. Os governos foram corruptos, ineptos. Os tipos de pessoas que staffed governos foram os tipos de pessoas que gostavam de outros pedidos ao redor.

Tempos Keynesianos

A crise financeira que emergiu em 2007-2008, cujos desdobramentos ainda se fazem sentir nos dias de hoje, é, sobretudo, a crise da globalização financeira, entendida como uma tendência à criação de um mercado financeiro global e de intensificação no fluxo de capitais entre países. Esse processo remonta a crise do sistema de Bretton Woods e a formação do mercado de eurodólares, que, diga-se de passagem, acabou contribuindo para a desregulamentação doméstica dos sistemas financeiros – com o fim da segmentação entre mercados – e a liberalização dos fluxos de capitais.
Como resultado do processo de desregulamentação financeira, observou-se um acirramento na concorrência entre instituições bancárias e, por conseguinte, queda nas margens de intermediação financeira, tendo como resposta uma tendência à conglomeração financeira e um aumento na escala de operação, via fusões e aquisições. Assim, instituições financeiras passaram a explorar diferentes mercados, inclusive de mais baixa renda. No mercado de títulos, desenvolveram-se mecanismos de securitização, estimulados pelo crescimento de investidores institucionais, em que firmas e bancos se financiam “empacotando” rendas a receber. Em suma, uma vez que a securitização permitia a diluição de riscos no mercado, as instituições financeiras passaram a aumentar sua alavancagem, supondo que os mecanismos de auto-regulação do mercado seriam capazes de continuar avaliando corretamente os riscos inerentes às atividades financeiras.
John Maynard Keynes, em sua Teoria Geral do Emprego, do Juros e da Moeda (TG) de 1936, já chamava a atenção para o fato de que, em economias monetárias da produção, a organização dos mercados financeiros enfrenta um trade-off entre liquidez e investimento: por um lado, eles estimulam o desenvolvimento da atividade produtiva ao tornar os ativos mais líquidos, liberando, portanto, o investidor da irreversibilidade do investimento; por outro, aumenta as possibilidades de ganhos especulativos. Assim, ao estabelecer uma conexão entre os mercados financeiro e real da economia, Keynes na TG (1964, p.159) escreve que “a posição é séria quando o empreendimento torna-se uma bolha sobre o redemoinho da especulação. Quando o desenvolvimento das atividades de um país torna-se o subproduto das atividades de um cassino, o trabalho provavelmente será mal-feito”.
Indo ao encontro de Keynes, nos dias de hoje, a ação dos global players, em um mercado mais liberalizado e integrado, faz com que os mercados financeiros convertam-se em uma espécie de grande cassino global. Especulação, em uma economia global, tem caráter disruptivo não somente em mercados domésticos, mas sobre países como um todo, criando uma espécie de cassino financeiro ampliado. Na perspectiva keynesiana, instabilidade financeira não é vista como “anomalia”, mas como resultante da própria forma de operação dos mercados financeiros em um sistema no qual não existe uma estrutura de salvaguarda que exerça o papel de um market marker global. Assim, o formato institucional específico dos mercados financeiros determina as possibilidades de se ter um ambiente em que a especulação possa florescer. Crises financeiras não são apenas resultados de comportamentos “irracionais” dos agentes, mas resultam da própria forma de operação dos mercados financeiros globais liberalizados sem um sistema de regulação adequado. A crise financeira internacional, cuja origem está nas perdas causadas pelo crescente default dos empréstimos das hipotecas de alto risco do mercado subprime americano e que, devido ao fato de que grande parte dessas hipotecas foram securitizadas e distribuídas a investidores do mercado global, acabou tornando-se global, nos induz a duas reflexões. Em primeiro lugar, ela põe em xeque os benefícios concretos da globalização financeira, com mercados financeiros desregulados, inclusive nos países desenvolvidos. Em segundo lugar, ela nos remete, a partir das medidas de natureza fiscal e monetária implementadas pelos países desenvolvidos e, em menor grau, por países em desenvolvimento – tais como injeção de liquidez e de capital nos sistemas financeiros por parte das autoridades econômicas destes países e redução sincronizada da taxa básica de juros dos principais bancos centrais mundiais – para se evitar a repetição de uma grande depressão, tanto a repensar o próprio papel do Estado na economia, quanto à necessidade de re-regulamentar os sistemas financeiros domésticos e reestruturar o sistema monetário internacional.
Essa é uma parte do texto Tempos Keynesianos que compõe o Dossie da Crise II, artigo escrito por vários economistas respeitados, através da Associação Keynesiana Brasileira para explicar e estudar a crise em vários aspectos. É um artigo bem completo, porém achei válido ressaltar esse trecho, que está bem de acordo com o que estudamos sobre a crise.

A importância de Keynes

Desde sua estatura imponente, com 1,98 metros, até suas idéias que desenvolveram a economia moderna, John Maynard Keynes contribuiu imensamente para o entendimento da economia por todos nós.

Defendendo a intervenção do Estado na economia, Keynes foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes do século XX, hoje sendo de fundamental entendimento de qualquer economista. Suas idéias foram bem aceitas, até a crise britânica e norte-americana da década de 70, que botaram em prova a real utilidade dessa doutrina intervencionista. Alguns economistas, como Milton Friedman, acreditaram que a economia se regularia por si só.

A “nova economia clássica”, como ficou conhecida, ensinou que sem interferência do governo, a economia buscaria naturalmente o pleno emprego, inovação, e desenvolvimento. Defendendo que se podem antecipar os riscos de todas as transações, e que os preços refletirão a realidade. Esse pensamento causou inúmeras bolhas nas últimas décadas.

Rebatendo fortemente a idéia de que a oferta geraria sua própria demanda, Keynes não acreditava que a produção de mercadorias geraria então sua própria demanda, podendo haver superprodução, como ocorreu na década de 1930. Onde pode haver períodos de pequena recessão, onde a demanda fosse diminuída. Por isso defendeu a idéia intervencionista, para o Estado gerir essa “crise de demanda”, regulamentando o mercado.

Depois da década de 70 onde sua idéia fora discutida e até então discordada, hoje em dia podemos ver até onde o pensamento de Keynes foi. Na última grande crise internacional, em 2008, gerado pelo mercado de ações, onde houve clara necessidade de uma intervenção por parte principalmente do governo norte-americano, onde se deu o grande boom no mercado.

O mercado capitalista por si só, busca desenfreadamente a busca por maximizar seu lucro, podendo assim ultrapassar barreiras sociais para isso. Porém, isso não necessariamente nos mostra que o sistema capitalismo seja falho ou inadequado para a humanidade. O que nos mostra é que deve sim ser regulamentada por um gestor social, e desapegado ao lucro, o Estado. Deixando o mercado mais justo, e com oportunidades para empresas de todo porte, sem esquecer o desenvolvimento da nação e crescimento individual de cada cidadão.

Ainda tomando as crises de 2008 até as atuais como alvo de discussão, podemos compreender o quanto essa intervenção do Estado é importante. No Brasil, principalmente desde 2008, vemos com maior intensidade o assistencialismo feito pelo governo, a fim de potencializar o poder de compra das pessoas de baixa renda, e aquecer o mercado interno. Sem essa ajuda, o país sairia com maiores dificuldades da última grande crise.

Mini-curso sobre Keynes

http://www.youtube.com/watch?v=Ryeyx9lRmhk

Keynes e a Crise de 2008


Muitos economistas brasileiros se proclamaram novamente keynesianos, e sugeriram as medidas keynesianas de investimentos e gastos públicos para conter a redução da demanda causada pelo panico de desemprego em massa.

Só que Keynes viveu em outra época, e por isto sugeriu as medidas apropriadas, o que não significa que faria o mesmo hoje.

Na época de Keynes.

1. O estado não controlava mais do que 15% do PIB.
2. As margens de lucro sobre vendas das empresas era de 25% ou mais do custo do produto. Ou seja, numa recessão as empresas não conseguiam vender porque não havia demanda para cobrir os custos mais este exorbitante lucro.
3. Pouca poupança mundial, 85% do PIB vinha de rendimentos do trabalho, só 15% de juros e dividendos. Hoje somente 60% do PIB americano vem dos rendimentos do trabalho, desemprego não afeta a economia nas mesmas proporções de 1929. Uma das razões, que prevíamos em 2008 que a Crise não era tão séria quanto os neo-keynesianos previam.

Antes de Keynes, o dogma econômico é que a oferta gerava a sua própria demanda. Antes que uma TV chegasse à loja, os trabalhadores, os fornecedores, os transportadores já tinham recebido pelos seus serviços, com a única exceção dos capitalistas que dependiam da venda efetiva para obter o lucro.

Portanto, segundo o economista Say, recessões deveriam ser combatidas com mais produção, e estímulos a produção, e não com mais estímulos ao consumo, a tese que seria defendida por Keynes, que corriam o risco de serem inflacionários, como de fato foram.

Acontece que ambos Say e Keynes estavam corretos. Como na época de Keynes e Say a margem de lucro embutida nas empresas era de 25% ou mais, sempre faltava 25% de renda para fazer a produção ser escoada. Nem sempre as empresas conseguiam contornar este problema. A oferta só gerava num primeiro momento 75% do consumo, contra 97,5% como atualmente.

Hoje, estes 2,5% que faltam é facilmente contornado pelas empresas, sem a necessidade de intervenção do governo.

Say estaria certo hoje, mas não estava totalmente correto em 1929, daí o surgimento e sucesso de Keynes na época. As margens enxugaram com a concorrência e os novos métodos de produção.

Keynes propunha suplementar os 25% de demanda que faltava com dinheiro do Estado.

Apesar de ser considerado hoje de esquerda, a politica Keynesiana gera benefícios eminentemente para direita, ao privilegiar os capitalistas a realizarem suas elevadas margens de lucro embutidas nos preços.

Hoje, políticas Keynesianas muitas vezes são inflacionárias, porque a margem de lucro que falta na demanda global é de somente 2,5%, em média. O mundo mudou, mas a teoria não.

Na América Latina Pode Haver Crise

Segundo ao presidente do Uruguai, José Mujica, a América Latina também corre risco de crise no mercado comum.

Questionado em entrevista sobre os efeitos da crise econômica internacional na América do Sul, o uruguaio disse que a "onda de ajuste" uma hora deve chegar à região. Mas afirmou que o país e seus vizinhos estão com mais "capacidade de resistência" do que em outras ocasiões.

Mujica disse ainda que, se precisar, os uruguaios serão "keynesianos", em referência ao economista John Maynard Keynes, que pregava intervenção estatal para estimular o crescimento econômico.

Na reportagem, o presidente uruguaio relata que já há preocupações com relação a saúde econômica do grupo. Segundo ele, a fragilidade de alguns países não pode ser paga por todos do grupo sem antes tomar certas medidas necessárias para o bem estar das relações continentais. "Não podemos pagar o preço de uma crise com os mais pobres", afirmou.

Mujica disse que reclamava das dificuldades do bloco sul-americano até o dia em que "contaram o que havia na Comunidade Europeia".

"Os europeus são mais velhos do que nós, começaram 40 anos antes o processo de integração e acontece o que acontece", disse.

http://bit.ly/vtpj0P

domingo, 20 de novembro de 2011

Quando Keynes salvou Friedman






A crise decorrente das inadimplências nos financiamentos imobiliários garantidos por hipotecas sub-primes nos Estados Unidos, que começou em 2006, revelou uma guinada de cento e oitenta graus no fundamento conceitual que norteava a política econômica do governo norte-americano. Ela trouxe de volta os fundamentos keynesianos, em detrimento do liberalismo de Milton Friedman, que predominava no pensamento econômico norte-americano de então.







A crise teve a sua origem remota ainda em 2001 quando, no onze de setembro daquele ano, aeronaves foram arremessadas por terroristas, duas contra as torres gêmeas de Nova York e uma contra o Pentágono. Para combater a crise de confiança que decorreu do episódio e a conseqüente desaceleração da economia, Alain Greespan, então presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, injetou consideráveis recursos financeiros no setor imobiliário, dado que tal setor era, e ainda é, um dos que responde mais rápida e fortemente ao estímulo de uma injeção de recursos, gerando emprego e renda.




Com isso, o crédito disponível para o financiamento habitacional cresceu tanto que, para aproveitar a boa maré os agentes imobiliários passaram a comprometer um percentual extremamente elevado da renda dos mutuários no pagamento das prestações. Ou seja: assumiram riscos elevados e, por isto, as hipotecas que garantiam os financiamentos receberam a qualificação de sub-primes.




No entanto, o problema surgiu e começou a ser sentido quando, já a partir de 2006, um número expressivo de mutuários de financiamentos imobiliários deixou de pagar as prestações das residências financiadas. A execução das hipotecas não garantiu os saldos devedores, uma vez que, com a execução das hipotecas e a re-colocação dos respectivos imóveis à venda, a oferta de residências cresceu tanto que seus preços de mercado caíram vertiginosamente. Assim, a inadimplência atingiu de cheio as companhias de financiamento imobiliário e, como decorrência, os títulos de dívida que elas haviam colocado no mercado financeiro para suportar os financiamentos concedidos perderam valor aceleradamente, iniciando uma crise em efeito dominó no setor financeiro.




Gigantescas companhias financeiras, que atuavam no mercado hipotecário de atacado, re-financiando companhias imobiliárias de varejo, abandonaram o segmento. Financiadoras de varejo ainda tentaram empurrar créditos podres para a Fanni Mae e para a Freddie Mac, duas companhias federais, pertencentes ao governo dos Estados Unidos que compravam créditos hipotecários de companhias privadas, dessa maneira fornecendo-lhes caixa para a ampliação das operações. Contudo, até o segundo semestre de 2007, o governo norte-americano mostrou-se intransigente. Não prestou socorro e nem auxílio a quem quer que fosse do setor imobiliário.




A construção civil é um dos setores da economia que mais produz efeitos a montante e a jusante; ela puxa fortemente a produção e a comercialização de materiais de construção e emprega mão de obra em elevadas proporções. Assim, além da brutal crise no setor financeiro, já sensível no segundo semestre de 2007, e que acabou se confirmando depois e contaminando as economias do resto do mundo – diz-se que um resfriado nos Estados Unidos provoca uma pneumonia no resto do mundo – passou a haver também a crise do próprio setor da construção civil dos Estados Unidos, que já se alastrava por toda a economia daquele país. Não obstante, até então, o governo norte-americano mostrava acreditar piamente no liberalismo, assumindo que tudo iria funcionar sob a mão invisível do mercado, que ela corrigiria as distorções, que otimizaria o emprego dos recursos e que, no fim, todos sairiam ganhando.




Contudo, no início do segundo semestre de 2007 o agravamento da crise, já então perceptível internamente, alertou o governo para desdobramentos deletérios. Assim para evitar uma recessão que inevitavelmente resultaria, o então presidente George Bush anunciou um monumental pacote de medidas de estímulo à economia. E uma das fortes medidas embrulhadas naquele pacote foi o envio de um cheque do próprio governo, no valor de mil e seiscentos dólares para cada família dos Estados Unidos.




Ao injetar tais recursos na economia, Bush pretendia acionar o efeito multiplicador keynesiano que tais recursos produziriam: o dinheiro produziria consumo, que puxaria a produção, que produziria mais consumo e assim por diante, gerando emprego e renda, dinamizando a economia e exorcizando a recessão. O efeito das medidas foi positivo, até onde foi possível saber. Contudo o efeito dominó dos títulos podres no sistema financeiro foi catastrófico, levando à bancarrota até mesmo bancos centenários como o Merryl Linch e espalhando seus efeitos nas economias do mundo todo. Posteriormente, dois anos depois, novas medidas de socorro ao sistema financeiro e a empresas específicas se fizeram necessárias e foram tomadas, efetivamente, pelo governo dos Estados Unidos.




Tais acontecimentos, a par dos efeitos dramáticos que provocaram, permitiram constatar que o desenvolvimento da crise desde o seu início retratou bem os fundamentos ideológicos de política econômica, até antagônicos, adotados pelo governo norte-americano. Até Bush anunciar as medidas oficiais de socorro à economia e a empresas específicas, estiveram vigentes as proposições de Milton Friedman, um economista liberal da escola de Chicago, considerado o pai do liberalismo moderno e que atualizou a política do laissez faire, proposta, já no século XVII por David Ricardo.




Contudo, ao intervir fortemente na economia para tentar conter o avanço da crise, Bush abandonou as premissas liberais de Friedman e demonstrou ter passado a acreditar no velho intervencionismo de Keynes; foi, sem dúvida, uma guinada ideológica de cento e oitenta graus.




A política de usar o poder de intervenção do estado, defendida por Keynes, foi empregada muitas vezes na história econômica recente, e sempre com sucesso. Para citar apenas casos mais expressivos, lembra-se que foi assim que Roosevelt tirou os Estados Unidos, e por extensão o mundo inteiro, do atoleiro econômico de 1929/1930. Foi com o receituário keynesiano que o próprio Bush impediu que a crise de confiança decorrente dos atentados de onze de setembro de 2001 produzisse efeitos negativos imediatos, principalmente uma recessão sem precedentes. Hoje, com o benefício da análise retrospectiva, sabemos que o erro daquelas medidas não estava nelas mesmas, mas na dose excessiva do remédio mas, principalmente, na ganância que o incentivo à expansão imobiliária permitiu. Por último, para citar um exemplo que ocorreu aqui na nossa casa, em essência foi com a política intervencionista do Fome Zero que Lula conseguiu fazer a economia brasileira crescer às taxas que todos comemoraram ao longo dos seus dois governos.




A mudança de política econômica foi drástica: deixar tudo por conta da mão invisível? Assumir que aquela figura difusa, indistinta, que até hoje ninguém sabe muito bem quem é, o que é, nem onde está ou o que faz, chamada mercado, pudesse corrigir todas as distorções da economia? Supor que o mercado, por majestoso que pudesse parecer teoricamente, criaria emprego e renda? Imaginar que o mercado, essa entidade sacrossanta adorada nos altares do liberalismo, pudesse re-alocar automaticamente fatores econômicos, corrigir distorções e produzir bem estar social? Nem pensar! Até mesmo nos Estados Unidos da América do Norte, a Meca do liberalismo moderno, sem o socorro de Keynes Friedman teria sido inapelavelmente sepultado.