segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Keynes e a Crise de 2008


Muitos economistas brasileiros se proclamaram novamente keynesianos, e sugeriram as medidas keynesianas de investimentos e gastos públicos para conter a redução da demanda causada pelo panico de desemprego em massa.

Só que Keynes viveu em outra época, e por isto sugeriu as medidas apropriadas, o que não significa que faria o mesmo hoje.

Na época de Keynes.

1. O estado não controlava mais do que 15% do PIB.
2. As margens de lucro sobre vendas das empresas era de 25% ou mais do custo do produto. Ou seja, numa recessão as empresas não conseguiam vender porque não havia demanda para cobrir os custos mais este exorbitante lucro.
3. Pouca poupança mundial, 85% do PIB vinha de rendimentos do trabalho, só 15% de juros e dividendos. Hoje somente 60% do PIB americano vem dos rendimentos do trabalho, desemprego não afeta a economia nas mesmas proporções de 1929. Uma das razões, que prevíamos em 2008 que a Crise não era tão séria quanto os neo-keynesianos previam.

Antes de Keynes, o dogma econômico é que a oferta gerava a sua própria demanda. Antes que uma TV chegasse à loja, os trabalhadores, os fornecedores, os transportadores já tinham recebido pelos seus serviços, com a única exceção dos capitalistas que dependiam da venda efetiva para obter o lucro.

Portanto, segundo o economista Say, recessões deveriam ser combatidas com mais produção, e estímulos a produção, e não com mais estímulos ao consumo, a tese que seria defendida por Keynes, que corriam o risco de serem inflacionários, como de fato foram.

Acontece que ambos Say e Keynes estavam corretos. Como na época de Keynes e Say a margem de lucro embutida nas empresas era de 25% ou mais, sempre faltava 25% de renda para fazer a produção ser escoada. Nem sempre as empresas conseguiam contornar este problema. A oferta só gerava num primeiro momento 75% do consumo, contra 97,5% como atualmente.

Hoje, estes 2,5% que faltam é facilmente contornado pelas empresas, sem a necessidade de intervenção do governo.

Say estaria certo hoje, mas não estava totalmente correto em 1929, daí o surgimento e sucesso de Keynes na época. As margens enxugaram com a concorrência e os novos métodos de produção.

Keynes propunha suplementar os 25% de demanda que faltava com dinheiro do Estado.

Apesar de ser considerado hoje de esquerda, a politica Keynesiana gera benefícios eminentemente para direita, ao privilegiar os capitalistas a realizarem suas elevadas margens de lucro embutidas nos preços.

Hoje, políticas Keynesianas muitas vezes são inflacionárias, porque a margem de lucro que falta na demanda global é de somente 2,5%, em média. O mundo mudou, mas a teoria não.

2 comentários:

  1. No contexto da crise financeira internacional vivenciada atualmente, ressurge a discussão sobre a adoção de medidas de cunho keynesiano no debelamento da crise, tais como a criação de um sistema de coordenação de políticas econômicas, a utilização de política fiscal expansionista e política monetária acomodativa, a implementação de controles de capitais, e sistemas de regulação e de supervisão mais eficientes, dentre outras. Obviamente, não se espera que a crise financeira atual culmine no fim das políticas ortodoxas que vem sendo implementadas no Brasil (e em diversas economias) desde a década de 1990. No entanto, em condições de instabilidade, há que se considerar um papel mais ativo do Estado no enfrentamento da crise e na reversão da desconfiança dos agentes econômicos. As medidas de política econômica (monetária, fiscal, e, de certa forma, a cambial) adotadas pelas autoridades monetárias sugerem o posicionamento efetivo dos diversos Estados (inclusive o brasileiro) na busca pela estabilidade do mercado, na medida em que os governos montam pacotes de resgate e injetam liquidez no sistema, além de promover uma estatização temporária de instituições, o reforço de regras de controles e a adoção de normas prudenciais mais rígidas. Neste sentido, o papel do Estado na recuperação do estado de confiança dos agentes econômicos, especialmente em momentos de crise, se faz absolutamente necessário, a fim de balizar expectativas e permitir a retomada da atividade econômica. A maior ou menor intervenção do Estado na economia (e o retorno com maior ou menor força das proposições keynesianas) dependerá dos efeitos da crise serem duradouros ou apenas superficiais.

    Beatriz Braz

    http://www.rep.org.br/pdf/14-6.pdf

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