segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Keynes versus Friedman

Keynes versus Friedman

Podemos considerar a economia como a ciência social que administra recursos escassos para satisfazer as necessidades humanas que são ilimitadas. Por definição a economia caminha em rotas repletas de subjetivismo. Cada tomada de decisão é feita sem certeza alguma. Aprende-se com os exemplos do passado e a tomada de decisões é perante o que se acha que deve ocorrer.

Partindo destes pressupostos, há espaço para diversas correntes de pensadores, onde na história recente temos dois grandes destaques. Um deles se chama John Minardi Keynes e foi o grande ícone de gerações de economistas em todo mundo, e inspira uma corrente de pensamento que leva seu nome. O outro é Milton Friedman, considerado o pai do liberalismo moderno.

Ambos pretendem o desenvolvimento, crescimento e o bem social. Porém traçam caminhos totalmente opostos para tal. Tomamos por exemplo a crise que se iniciou nos Estados Unidos e que é a causa da paralisia e até recessão dos mercados atuais.

A crise começou com um ataque terrorista brutal, que certamente levaria a economia americana – e consequentemente global – a uma crise de confiança e redução de consumo. Prevendo isso, o Governo americano injetou considerados recursos no setor imobiliário, que a priori afeta inúmeros outros setores da economia.

A oferta de crédito era enorme e os bancos usaram de sua liberdade ‘a la Friedman’ para ter grande liquidez. Foram feitos milhares de empréstimos que comprometiam boa parte da renda dos compradores e securitizados por hipotecas. Tudo funcionou até que o aumento da inadimplência começou a executar hipotecas e a recolocação desses imóveis a venda. O resultado foi uma extrema perda de valor nestes ativos e seus títulos de dívidas viraram pó.

Os bancos estavam operando com uma alavancagem de derivativos muito altos, muito além do que a saúde econômica suportaria e pior, muitos alavancados com títulos podres do setor imobiliário. O problema com a inadimplência dos financiamentos de imóveis nos EUA afetou a liquidez dos bancos e, por sua vez, a economia sem crédito ficou paralítica e a beira do caos.

Todo este cenário que descrevi até agora aconteceu perante o governo republicano do presidente Bush. O governo assistiu este desenrolar paciente e sem intervenções, acreditando no auto ajuste do mercado pela ‘mão invisível’. É isto que ensina a doutrina liberal de Friedman, onde o governo deve ter suas ações limitadas e deve deixar o mercado livre. É interessante salientar que Friedman conquistou o prêmio Nobel de economia em 1976, e era praticamente o Deus do liberalismo, o suprassumo das correntes econômicas. Porém sua teoria foi posta à prova, e pior, para sobreviver a crise, o governo liberal de Bush teve que atuar fortemente na economia.

Neste momento, estava Keynes em alguma dimensão, comemorando como se estivesse feito um gol.

O governo dos EUA teve que socorrer a economia atuando principalmente no setor financeiro e em algumas empresas estratégicas. Ao injetar recursos na economia foi acionado o efeito multiplicador de keynesiano: o dinheiro produz consumo, que puxaria a produção, que produziria mais consumo e assim por diante.

É importante lembrar que a presença do Estado na economia, pressuposto de Keynes, deve ser diferente em cada setor e que o Estado não pode ser o único agente de investimentos e desenvolvimento. Isto causaria grandes déficits. É o caso da Grécia atualmente.

Friedman acreditava que a atuação monetária deveria ser a única ferramenta de atuação do Estado, deixando que o restante fosse feito conforme ajustes que o próprio mercado faria. Isto se mostrou uma utopia. Os agentes do mercado são gananciosos e se deixar controlar sozinho causaria ganhos a alguns e perca para muitos. As deslocações de renda deixaria a economia ainda mais instável. Sendo que ‘crise’ seria o reflexo de grandes proporções deste desajuste. Certamente que o liberalismo acerta em alguns pontos, mas deixar o mercado se regular pode ir de encontro ao bem social, pois se desconsidera a irracionalidade e desonestidade dos agentes do mercado.

Os pensamentos de Keynes se mostraram eficazes. Tanto para a contenção desta crise como também na Grande Depressão de 1929 e na reconstrução da Europa pós-guerra. Porém o excesso da presença do Estado na economia grega levou o país à uma dívida muito além da produção do país. Keynes considerou que o Estado teria os melhores profissionais e não considerou a corrupção.

Acredito que as medidas econômicas devem ter um mix, entre controle estatal em algumas áreas, mercado se regulando e de uma forma assistida em outras. O Estado deve ter como prioridade o desenvolvimento sustentável e ambas as correntes podem contribuir para isto.

Que Keynes cuide bem de Friedman, amém.

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